O atleta de remo do Vasco da Gama, de 15 anos, que foi conduzido para uma delegacia com outros cinco jovens, na última segunda-feira, pela Polícia Militar, afirmou que estava dormindo no momento em que foi abordado por policiais. O jovem é negro e estava em um ônibus da linha 472, onde, segundo a PM, estariam os suspeitos de um furto de um celular. O jovem chegou a mostrar a carteirinha do clube, mas foi levado para a 4ª DP (Praça da República), onde ficou por cerca de três horas sem conseguir contato com seus responsáveis.
— Eu não fiz nada de ilegal. Eu estava dormindo, lá na frente do ônibus e a polícia me acordou. Os policiais pensaram que eu tinha feito alguma coisa, mas eu não fiz nada. Estava vindo da praia com os garotos, depois de tomar um açaí em Botafogo, depois do treino. Eles começaram a revistar, viram que eu não estava com nada, mas viram a cor do meu cabelo (descolorido) e mandaram eu descer do ônibus — afirma o adolescente.
Ele relata que ficou três horas sentado no chão junto a pelo menos outros cinco jovens.
— Eles ficaram perguntaram quem roubou. Eu falei que não fui eu, que eu era do Vasco da Gama, que tinha vindo do treino e tinha ido na praia. Eu nunca roubaria. Um dos garotos falou que roubou, mas não acreditaram que tinha sido só ele — diz.
Era cerca de meia-noite desta quarta-feira quando a mãe soube através de uma mensagem que o filho conseguiu mandar avisando que estava na delegacia por ser suspeito de furtar um celular. Ela relata que se preparava e preparava o filho para se proteger deste tipo de abordagem policial. Indignada, a mãe do adolescente pediu ajuda ao clube. "É assustador ficar horas sem contato com seu filho e depois descobrir que ele está numa delegacia", ela desabafa. O departamento jurídico do Vasco disse que vai assumir a representação jurídica do atleta e sua família para reparar a injustiça.
— Na hora eu fiquei assustada, pensei um monte de coisas, mas eu sabia que tinha algo de errado, porque sabia onde ele estava. Meu filho é um menino muito centrado, conseguiu manter o controle. Ele está bem, na medida do possível. A ficha dele está caindo ainda. Eu fiquei muito assustada. Mesmo eu preparando ele e me preparando, porque a gente sabe que isso acontece, é assustador ficar horas sem contato com seu filho e depois descobrir que ele está numa delegacia. Fiquei horrorizada. Eu sei que ele não foi o primeiro e infelizmente não será o último. A gente precisa de policiais mais preparados — conta a mãe, que é agente comunitária de saúde.
Ela conta, ainda, que ao chegar na unidade policial, descobriu que tiraram a foto do filho. Ela questionou, mas a atendente não respondeu o porquê do registro.
Após o ocorrido, a mãe do rapaz foi recebida pelo Departamento de Responsabilidade Social do Vasco que, diante da gravidade, acionou o 1º vice-presidente Geral, Carlos Roberto Osório, e o Departamento Jurídico para prestar suporte ao jovem e à família.
— Vamos assumir a representação jurídica do jovem e sua família para buscar a reparação necessária da injustiça cometida e garantir que não fique nenhuma mácula ao bom nome de nosso jovem remador — disse Carlos Roberto Osório, 1⁰ Vice-Presidente Geral do Vasco da Gama.
Segundo a Polícia Militar, as vítimas furtadas relataram aos militares que os suspeitos da ação criminosa estavam a bordo de um ônibus da linha 472. Na ação, quatro menores foram abordados pelos policiais. Com o grupo, os agentes localizaram dois aparelhos de telefone celular, mas a polícia não identifica com quais dos adolescentes os objetos foram encontrados. Os telefones foram devolvidos às vítimas que procuraram a guarnição.
A corporação informou ainda que, após a solicitação dos militares para as vítimas acompanharem a equipe até a delegacia, uma delas informou aos agentes que não gostaria de formalizar a denúncia sob a justificativa de que morava na mesma comunidade que os acusados. Já a outra vítima acompanhou a equipe até a unidade policial, onde não reconheceu os envolvidos como autores do furto. Os adolescentes foram conduzidos à 4ª DP (Praça da República), onde o fato foi registrado e posteriormente, todos foram liberados. O comando do 5° BPM (Praça da Harmonia) instaurou um procedimento apuratório para analisar a conduta dos policiais.
História no remo
O adolescente é remador do Vasco desde 2021. Já passou por várias categorias das divisões de base e atualmente defende o Vasco na categorial juvenil. O jovem é atleta federado na Federação de Remo do Estado do Rio de Janeiro, disputa o campeonato estadual e já conquistou medalhas e ouro, prata e bronze para o clube. Seus barcos são o skiff (individual) e four-skiff (4 remadores). Segundo o clube, não são incomuns abordagens policiais a jovens atletas do remo do Vasco, que treinam na Lagoa e moram na Zona Norte.
— Infelizmente acontecem com alguma regularidade, principalmente quando são negros. Nessas ocasiões os jovens se apresentam e comprovam serem atletas do Vasco e são liberados. Casos similares de abordagens também já foram registrados com alunos e jovens atletas do futebol — afirma Osório.