Um mergulho nos dados do maior rival mostra o inverso. As duas faixas mais jovens representam 47% do total de rubro-negros. Já entre os mais velhos o Flamengo tem a menor proporção do top 5, somando 32%.
O cenário nas arquibancadas reflete o que se vê no campo. O último grande título do Vasco foi conquistado há quase 15 anos (a Copa do Brasil de 2011), após a primeira queda à Série B, sofrida em 2008. Desde então, foram mais três rebaixamentos (2013, 2015 e 2020) e crises políticas sem fim.
— A torcida do Vasco já era imensa nos anos 1940 e, nos anos 1970, aumentou, com a geração de Roberto Dinamite e até o início dos anos 2000. Mas não tem conseguido formar novos torcedores. É um dado que não me espanta. O clube não vence títulos e não consegue nutrir esperanças em seus torcedores de que vai se tornar vencedor novamente — analisa Leda Maria da Costa, pesquisadora do Laboratório de estudos em Mídia e Esporte da UERJ.
Mas não é apenas isso que explica a dificuldade de renovação de uma torcida. O Palmeiras, que teve um novo boom de títulos nos últimos anos, tem a menor proporção de torcedores mais jovens (29%) e a segunda maior entre os mais velhos (45%) — reflexo do sucesso nas décadas de 1970 e 1990 e um sinal de que o momento atual talvez ainda não se reflita numa renovação.
Na ponta do ranking, o Flamengo tem um dever de casa a fazer: manter os mais jovens conectados ao clube ao longo da vida. Nada menos que 29,4% dos entrevistados na faixa mais jovem, de 16 a 24 anos, declararam-se rubro-negros, um índice bem acima dos 21,2% de média na pesquisa geral. Em comparação com o levantamento de 2022, houve um aumento de três pontos percentuais nesse recorte.
TRABALHO A LONGO PRAZO
Essa não é exatamente uma novidade. Vice-presidente de Marketing do rubro-negro, Ricardo Hinrichsen se lembra de uma pesquisa de meados dos anos 2000 que apontava o grande percentual de fãs entre o público de 10 a 15 anos. O desafio hoje, portanto, é manter esses torcedores fiéis ao time na fase adulta — muitos acabam se distanciando do futebol. A boa fase dos últimos anos ajuda no processo, mas é necessário ir além.
— Precisamos trabalhar melhor essa faixa etária para manter a conexão das crianças e adolescentes com o clube até ficarem adultos. Temos algumas estratégias, como a negociação com uma plataforma nova de e-Sports e a nova linguagem da Flamengo TV. Nosso objetivo é que o percentual de 18% a 21% (média geral), que aparece nas pesquisas, salte para o patamar de 30% ou mais — diz Hinrichsen, que foi VP de Marketing também de 2006 a 2009.
As torcidas dos clubes paulistas que figuram no Top-5 das maiores do Brasil fogem dos extremos no recorte por idade. O Corinthians é o mais intergeracional, com percentuais semelhantes em todas as faixas, com uma leve tendência à juventude. Já o São Paulo tem a base mais jovem, com seus torcedores concentrados sobretudo entre os 25 e 44 anos, fruto das eras vitoriosas com Telê Santana, no início dos anos 1990 e Muricy Ramalho na primeira década do Século XXI.
A pesquisa foi realizada pela Ipsos-Ipec entre 5 e 9 de junho de 2025. Foram entrevistadas 2000 pessoas com 16 anos ou mais em 132 municípios brasileiros. Com nível de confiança de 95%, a margem de erro estimada para o total da amostra é de 2,2 pontos percentuais. Em alguns recortes, a soma pode ser maior que 100% porque foram considerados dois times como preferência.
Escolher o time de coração é um processo iniciado na infância e motivado por relações familiares, escolares e de amizade. A afirmação dessa paixão, no entanto, depende do que o clube oferece em troca a seus fãs. Quando o retorno vem em forma de derrotas, rebaixamentos ou seca de títulos, dificilmente há amor que perdure. É o que aponta a pesquisa O GLOBO/ Ipsos-Ipec no recorte por idade das cinco maiores torcidas do país. Do top 5, o combalido Vasco possui a maior proporção de apoiadores acima dos 45 anos: eles representam 47% do total de cruz-maltinos. Por outro lado, as duas faixas mais jovens, entre 16 e 34 anos, compõem apenas 31% dos vascaínos.