Estava com ideia de texto já concatenada para falar da frouxidão, da inoperância e da postura caricata do time do Vasco na derrota de 3 a 2 para o Mirassol, em São Paulo, quando tocou o celular. Do outro lado da linha, o amigo vascaíno pede licença para invadir minha noite e promete me fazer um questionamento.
“O que falta para vocês, jornalistas esportivos, enxergarem que o trabalho do Fernando Diniz não é o mais adequado para o atual momento do Vasco? São 17 jogos, sete derrotas, seis empates e só quatro vitórias! Em qualquer clube, um técnico com este rendimento já teria sido dispensado… por que vocês não cobram isso?”.
Antes de por fim à ligação, ponderei. “Ok. Mas, ainda que sejamos rigorosos a ponto de creditar a ele a mediocridade técnica e coletiva do Vasco, cobraremos de quem?
Encerrei a conversa e fui assistir ao confronto entre Fluminense e Grêmio, no Maracanã, com vitória de 1 a 0 do time de Renato Gaúcho.
Mas aquele telefonema me fez refletir sobre o que se passa pela cabeça do torcedor do Vasco. Porque é difícil mesmo saber por que o momento é tão ruim. Os jogadores são desaqualificados? O técnico é “sem noção? O preparador-fisico é fraco? Existe diretor responsável pelo futebol? O “presidente” mentiu nos seus propósitos?
O diagnóstico não é dos mais fáceis. Futebol exige sensatez e sensibilidade, sentimentos a cada dia mais longe da cruel instantaneidade das redes.
Mas, insisto: o problema do Vasco é “politico-estrutural”. E o hoje o clube não tem um presidente empreendedor e empresarialmente capacitado a captar recursos financeiros. Tem Pedro Paulo, o ex-jogador Pedrinho, o bem intencionado levado ao posto mais alto da administração por um grupo político vazio de grandes empreendedores e/ou de executivos respeitados no mercado corporativo. A expertise está no jogo travado nos tribunais de Justiça do país. Fora dali, são ineptos.
Não há no futebol do clube um diretor identificado com as raízes, capaz de criar um plano de voo adequado às necessidades. Admar Lopes, o ex-analista de desempenho português, trazido há pouco para “reestruturar o futebol”, está ainda desconectado da história do Vasco. Mal sabe, como muitos que estão lá, o quão importante é técnica e institucionalmente a presença no time de jovens formados nas divisões de base.
Na verdade, não sabem sequer o que representará ou representaria um outro rebaixamento na história da instituição. Podem até ter uma vaga noção, mas não sentirão na carne e disso não tenho a menor dúvida. Ou seja, não resta mesmo opção aos mais apaixonados vascaínos senão implorar por ajuda.
De minha parte, o que posso fazer é apontar a falta de competitividade dos times de Diniz. O trabalho precisa, sim, ser questionado porque não é algo isolado no Vasco. A narrativa das chances criadas, das falhas pontuais e de resultados injustos custaram demissões no Fluminense, no Cruzeiro e na seleção.
Ele tem 19 derrotas sofridas em 32 confrontos à frente de Fluminense, Cruzeiro e Vasco e isso não é “resultadismo” - é responsabilidade e atenção aos sinais. E o Vasco dele é inconsistente na marcação de meio campo, relapso na vigília de sua própria área e ineficaz na geração de jogadas - cruzar bolas na área segue sendo a principal delas. E a insistência em manter Vegetti em campo por 90 minutos vai custar caro - a ele e ao veterano artilheiro.
Diante de tão pobre realidade, perder fora de casa para o Mirassol, não surpreende. Pior é não ter quem assuma o compromisso por mudanças na postura e no cenário. Pedro Paulo, o presidente, precisa estar ali, no jogo a jogo, mostrando que sabe o que está fazendo. Ou, pelo menos, que saiba o que estão fazendo com o Vasco…