A BDO, quinta maior empresa de auditoria do mundo, está olhando com interesse o processo de transformação dos clubes brasileiros em Sociedade Anônima do Futebol (SAF), intensificado nos últimos anos e, atualmente, abarcando inclusive equipes das Séries C e D do Campeonato Brasileiro.
Segundo Carlos Aragaki, sócio líder da área Esporte Total da BDO, metade dos rendimentos da empresa com clubes de futebol já vêm de times que se transformaram em empresa nos últimos anos.
“Com a entrada do Vasco, chegou a 50%. Se alguém mais virar SAF, ainda que seja cliente nosso que hoje seja associação”, afirma Aragaki.
Atualmente, além da CBF, a empresa faz auditoria para 40% dos times da Série A do Brasileirão. Botafogo, Fluminense, Fortaleza, Internacional, Palmeiras, Red Bull Bragantino, Sport Recife e Vasco são clientes da BDO na elite.
Desses, três são SAFs (Botafogo, Fortaleza e Vasco), dois estudam se tornar uma (Fluminense e Sport) e há um é clube empresa, embora não adote o modelo de SAF (Bragantino).
Tendência
Para ele, porém, a tendência é que as SAF comecem a invadir as divisões menores do futebol brasileiro, como as Séries C e D, além de clubes que não integram atualmente algum torneio nacional.
“Temos percebido que o movimento de SAF não está mais totalmente na Série A. O investidor tem buscado clubes menores, porque não tem pressão de Conselho [Deliberativo], nem de torcida”, explica.
Nas divisões inferiores, a BDO mantém boa representatividade, embora abocanhe uma porção menor. Na Série B está presente em Avaí, Athletico, Coritiba, Cuiabá e Goiás. Desses, Coritiba e Cuiabá são SAFs, enquanto o Avaí discuta o tema há alguns anos.
Na terceira divisão, América-RN, Retrô, Figueirense e Guarani fazem parte da lista de clientes. Os dois primeiros já são SAFs, os dois últimos passam por processo de transformação. Na Série D, a empresa fechou com a Portuguesa, outra SAF.
“O América de Natal já tem investidor. O Figueirense está em processo avançado para virar SAF, inclusive entraram em recuperação judicial. Aqui em São Paulo, a Portuguesa é nosso case mais recente”, conta o executivo.
Por fim, o Santo André, campeão da Copa do Brasil em 2004 e que está sem divisão neste ano, também contratou a BDO e é outro que está mudando o estatuto para se tornar SAF.
Transformação
Para o executivo, a migração dos clubes ao modelo de SAF serve como última tentativa para sanear dívidas, graças à chegada de capitais de um novo investidor, e implantar um modelo mais profissional de gestão e governança.
“Os clubes endividados não têm caixa para investir. Logo, talvez não tenham bom desempenho, possam receber premiação e direitos de TV menores e até serem rebaixados”, afirma Aragaki.
“Já clubes que são SAFs, o investidor coloca dinheiro e, de alguma maneira, isso pode pesar, ao longo dos anos, para competir com Palmeiras e Flamengo, que são hoje os dominantes”, acrescenta ele, referindo-se aos clubes associativos mais bem-sucedidos no momento, no Brasil.
John Textor, dono da SAF do Botafogo, comemora a vitória sobre o PSG na Copa do Mundo de Clubes – Vitor Silva / Botafogo
Botafogo
Aragaki cita o Botafogo como o principal case de sucesso do momento entre os times que se tornaram empresa. Há poucos anos, como clube associativo, o Glorioso se via com uma dívida impagável e sem recursos para investir em elenco. Isso fazia com que a equipe ambicionasse apenas não cair no Brasileirão.
Com a injeção de recursos vinda da Eagle Football Holdings, de John Textor, o clube assumiu papel de protagonismo, conquistando a Libertadores e o Brasileirão na última temporada. A equipe também foi uma das representantes brasileiras na Copa do Mundo de Clubes da Fifa, encerrada no último domingo.
“Hoje basicamente são as SAFs, como Botafogo, Bahia e Atlético-MG as grandes ameaças aos times dominantes”, acredita o auditor.
Bolsa de Nova York
Aragaki credita o atraso na divulgação do balanço do Botafogo referente a 2024, ano mais vitorioso da história do clube, a um processo maior, pelo qual passa a Eagle.
“Como eles [Eagle] estão com o pedido de abertura de capital, acredito ser muito provável que o Botafogo esteja aguardando esse trâmite ilegal.”
O conglomerado multiclubes está formatando o IPO (oferta pública inicial, na sigla em inglês) para ser registrado na SEC (Comissão de Valores Mobiliários dos EUA), órgão regulador do mercado financeiro do país. A BDO do Reino Unido é quem tem desenvolvido esse trabalho para a Eagle.
A abertura de capital na Bolsa de Valores de Nova York está prevista para acontecer em agosto ou setembro. A expectativa, com esse passo, é que a Eagle consiga atrair US$ 500 milhões de investidores no mercado, alcançando uma avaliação de US$ 2,3 bilhões (R$ 12,8 bilhões).
“Eles protocolaram a documentação para o IPO na Bolsa de Nova York no dia 13 de junho”, conta Aragaki
O executivo foi quem auditou o balanço do Botafogo para 2024. Com o lançamento da Eagle no mercado de ações, ele acredita que os números finalmente sejam tornados públicos. “Mesmo que não sejam publicados no Brasil, essas informações irão constar no IPO”, explica.