A venda do Vasco SAF à 777 Partners é um projeto que fracassou: a empresa se afundou em dívidas, há uma disputa judicial e a associação retomou o controle do futebol cruzmaltino. Dito isso, conhecer as condições deste acordo ajuda a mostrar como as promessas de um investidor são, muitas vezes, ilusórias.
O acordo de acionistas entre as partes foi conhecido no meio de uma ação da consultoria KPMG contra a Vasco SAF em que cobra pela intermediação do negócio. O total da ação é de R$ 5 milhões.
Boa parte das condições no contrato eram conhecidas desde que foi firmada a venda. Eram previstos R$ 700 milhões de investimentos por parte da 777, assim como assumia-se o pagamento de dívidas do clube no mesmo montante.
Também se sabia que havia uma obrigação de investimento mínimo no futebol. Pelos dois primeiros anos, eram R$ 360 milhões, isto é, R$ 180 milhões por ano. Na atual temporada, o clube teria direito a R$ 250 milhões, entre contratações e folha salarial.
Isso explica a janela de transferências robusta do Vasco no início do ano antes da derrocada financeira da 777.
As metas esportivas - como classificação à Libertadores, títulos nacionais, etc - condicionavam a distribuição de dividendos na empresa.
Havia, sim, bloqueios feitos pelos investidores para afastar o Vasco da concorrência. O clube não poderia vender ações - tinha ficado com 30% do total - para grupos concorrentes de times. São citados na cláusulas como vetados o Grupo City, o Eagle Holdings (grupo de John Textor, que tem o Botafogo), o Red Bull, o MCO, do Liverpool.
Dos aportes previstos, a 777 Partners investiu apenas R$ 310 milhões. Pelo contrato, o Vasco tem direito de diluir o capital do investidor por meio de bônus de subscrição por conta da inadimplência de aportes - essa inadimplência se caracterizaria agora em outubro, já que em setembro deveria haver investimento.
Mas, nesse momento, o Vasco e a A-CAP (empresa que sucedeu a 777) estão com sua ação de arbitragem suspensa. As duas partes concordam com o princípio geral de achar um novo investidor.
O problema é que, na Justiça dos EUA, a Leanderhall, seguradora inglesa que é credora de bilhões da 777, conseguiu congelar todos os ativos do grupo, ainda que o Vasco não esteja diretamente citado como um deles. A A-CAP (sucessora da 777) não conseguiu derrubar a decisão judicial que levava a esse congelamento. O objetivo da seguradora inglesa é receber seu dinheiro de volta.
No Brasil, o processo que conta é o dos credores, como a KPMG, que cobra a Vasco SAF pelos seus serviços. Teoricamente, deveriam ter sido pagos R$ 28 milhões para advogados, consultorias e até assessoria de imprensa para fechar a venda do clube da Colina para a 777.
A leitura de todos os documentos do investimento da SAF do Vasco, no geral, mostra um negócio que começou como um grande promessa para os torcedores, revelou-se uma promessa vazia e terminou como uma desilusão.
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