Incomoda aos vascaínos a simples sensação de que, apesar da venda de 70% das ações da SAF para o grupo americano 777 Partners, o clube segue longe de retomar o patamar desejado. E é um incômodo que se transforma em frustração toda as vezes que o time se confronta com o maior rival. Como no Vasco x Flamengo deste domingo (04), no Maracanã. O abismo técnico que separa os dois times segue sendo gritante.
Passados os primeiros 30 dias do novo ano ainda não foi possível perceber grandes mudanças no futebol vascaíno. Saiu Paulo Bracks, chegou Alexandre Mattos, ok. Mas dos seis novos jogadores adquiridos, quatro não entraram em campo. Ou seja: se são reforços ainda não se pode dizer. O que pôde ser visto até agora foi a venda de Gabriel Pec e Marlon Gomes. Transações que, juntas, renderam R$ 113 milhões à 777.
Nesta semana tão conturbada para as pretensões do técnico Ramón Díaz, com um só ponto somado em seis disputados e perda do meia Paulinho para o restante da temporada, a direção do Vasco SAF conseguiu dar um passo adiante. Fonte muito bem informada revela que houve consenso sobre a necessidade de antecipar decisões programadas para julho. Isso significa nova ida ao mercado nesta janela que só se fecha em março.
Há carências, sabe-se, mas a preocupação maior é com a fase ofensiva. E a melhora no nível de competitividade do elenco foi condição fundamental para a permanência do treinador argentino que salvou o clube de novo rebaixamento. Ramón cobra por opções e começa a se incomodar por estar de novo às voltas com limitações que exigiu não mais ter de enfrentar à beira do campo. Mattos anda desconfortável com o não cumprimento e tem manifestado tal coisa nos bastidores.
É bom lembrar, no entanto, que a transformação do departamento de futebol em SAF não foi uma opção, foi solução emergencial dos vascaínos. O clube agonizou por anos sem encontrar saídas de curto e médio prazo para sanear as finanças. Endividado e sem crédito para manter um time competitivo, caiu três vezes em oito anos. E quando parecia no caminho de uma reestruturação financeira, caiu de novo. Só que a queda de 2020 foi devastadora pelo passivo que se avolumara.
Houve redução drástica nas receitas e vencimento de dívidas de curto prazo. Ouso dizer que se não se capitalizasse com a criação e comercialização de sua SAF, o Vasco seguiria penando em sua mediocridade técnica e administrativa. Hoje já dá ao menos para sonhar. O problema é que não é das melhores a relação entre a nova diretoria do clube e os executivos da empresa que gere o futebol. E isso pode gerar atrasos consideráveis na maturação do projeto.
A ausência do presidente Pedro Paulo na reunião proposta pela Federação para escolher o árbitro do clássico contra o rival mostra o distanciamento entre as partes. E, é bom que se diga: não era obrigação dele. No entanto, na primeira oportunidade após tomar posse no cargo de mandatário-mor da instituição, o ex-jogador Pedrinho, um ídolo da torcida, preferiu não fazer parte da comitiva que representou o clube no encontro da última sexta-feira (2) na entidade.
Impossível fechar os olhos para tal fato em se tratando de alguém que se elegeu anunciando que acompanharia de perto as questões envolvendo o futebol do Vasco. Minha dúvida é se o ex-jogador sequer foi convidado ou até mesmo as partes decidiram abrir mão do presidente que, por ser um ex-jogador do clube, é quem mais tinha autoridade para opinar sobre o quadro de árbitros da Federação.