Thiago Galhardo foge de qualquer estereótipo de um jogador de futebol. É até difícil descrevê-lo depois da entrevista de pouco mais de uma hora ao Abre Aspas, em Recife, onde expôs suas fragilidades, virtudes, desafetos e uma personalidade quase em extinção entre os boleiros.
Nascido em uma família de classe média alta e sem enfrentar as dificuldades comuns de quem sonha em viver do futebol, ele deixou a estabilidade de um emprego na Petrobras para jogar por Botafogo, Vasco, Internacional, Celta de Vigo, seleção brasileira, entre outros.
– Acho que é o sonho de muitas pessoas ter um concurso público assim. Posso ser bem sincero que não era o meu, mas fui meio que obrigado, porque acabou que as coisas foram me levando. E sou grato ao pré-sal, acho que mudou a minha vida. Eu brinco com a minha mãe que é 30% do pré-sal e os outros 70% são da minha avó e dela, as únicas duas pessoas que me apoiaram. É uma pauta que no começo da minha carreira me incomodava um pouco, porque quando chegava para ser apresentado no clube se falava mais de Petrobras do que pelo Galhardo do futebol.
Um detalhe triste e curioso da carreira de Thiago Galhardo envolve a sua única convocação para a seleção brasileira em 2020 – ele afirma que nunca mais teve o desejo de voltar a defender o Brasil. A promessa feita para a avó falecida incluiu abstinência de sexo e bebidas.
Para chegar à Seleção você tem que abdicar de muita coisa. Eu não contei isso para ninguém e abdiquei muito da minha vida. Foram 130 dias sem me relacionar com ninguém, isso falo de ter uma relação sexual, nada. Abri mão de bebida, de tudo.
— Thiago Galhardo.
– Eu me preparei para aquilo. Aquele momento do Inter foi porque trabalhei para o futebol. As pessoas queriam que eu voltasse para a Seleção, mas ninguém perguntou para o Thiago se o Thiago queria voltar para a Seleção. E quando saio da Seleção não queria mais voltar. Eu tinha realizado o meu sonho, acho que tinha feito tudo o que tinha para estar ali. Tem coisa na nossa vida que é para se viver uma vez só.
O futebol trouxe a Galhardo muito mais do que fama e dinheiro. Os problemas de saúde mental e uma coleção de desafetos norteiam a carreira do jogador, que admite não consumir o próprio esporte quando está de folga. Ele prefere compor músicas, assistir a séries e ler – nas contas dele foram mais de 120 livros nos últimos anos.
– A gente vê que em 95%, 97% dos atletas depois que encerram a carreira ficam pobres mesmo. Ficam aqueles cinco, sete anos ali conseguindo se manter e depois perdem tudo. Era um medo que eu tinha muito grande, acho que estou bem estruturado e pronto até para parar. Eu vim de uma base familiar que me obrigava a estudar, que é o certo, assim como faço com os meus filhos.
– Estou há três anos e meio fazendo tratamento. A gente acha que psiquiatra é só quando você está no momento máximo. Para ser sincero, até tomo uma medicação todos os dias para conseguir me manter mais tranquilo. Em 2023 o futebol parou de fazer muito sentido para mim, vi muitas coisas erradas acontecendo e isso me trouxe um pouco de... Não foi depressão, mas tipo: "Pô, o que tô fazendo, dinheiro só não faz muito sentido".
Ficha Técnica
Nome: Thiago Galhardo do Nascimento Rocha
Profissão: jogador de futebol
Idade: 35 anos
Carreira: Bangu, Botafogo, Comercial-SP, América-RN, Remo, Boa Esporte, Cametá, Brasiliense, Madureira, Coritiba, RB Brasil, Ponte Preta, Albirex Nigata, Vasco, Ceará, Internacional, Celta de Vigo, Fortaleza, Goiás e Santa Cruz.
Títulos: Campeonato Cearense (2023) e Copa do Nordeste (2024).
Galhardo se considera um dos últimos sincerões do futebol, ao lado de Neymar. Mais do que isso: ele defende uma maior participação dos jogadores na política e o fim dos discursos prontos em entrevistas moldadas por assessorias.
São um bando de medrosos. Hoje tenho visto mais atletas falarem, mas alguns têm medo da forma como vão se posicionar
— Thiago Galhardo.
– São poucas as pessoas que se preocupam com isso, a maioria fala que tanto faz, é indiferente quem esteja no poder. O que muda para quem de fato é empresário e tudo mais, então o jogador de futebol acaba que não tem esse estudo, são poucos. E não é falando mal.
Atualmente defendendo o Santa Cruz na última divisão do Campeonato Brasileiro, Galhardo caminha para os últimos anos da carreira e projeta o que fazer depois de parar: multiplicar o dinheiro que ganhou, trabalhar como comentarista ou até ser um dos participantes de uma edição do Big Brother Brasil.
– Eu iria para o Big Brother. Tem algumas coisas que podem me manter ainda no auge, num nível de conhecimento muito grande. Nunca teve um atleta lá, de futebol, que passou por uma situação no Big Brother. Imagina um convite desse daqui a pouco?
Na entrevista abaixo, Thiago Galhardo detalha a sua chegada ao Santa Cruz, o otimismo em afirmar que a sua autobiografia será um "best-seller", alguns dos episódios marcantes na carreira e a revelação de quem são os seus desafetos no futebol, como o atacante Taison.
– Ele é um cara que posso dizer que é falso, não olha no olho para falar, não sei nem se para entrevista ele consegue olhar no olho. Porque ele é um cara muito duvidoso, não é esse tipo de burro, ele é totalmente pendendo com o lado que acho que é negativo.
Abre Aspas: Thiago Galhardo
ge: Como foi o concurso para trabalhar na Petrobras?
Thiago Galhardo: – Como era para o Ensino Médio, estava começando o curso preparatório, seria isolador, o braço-direito do engenho elétrico formado, trabalharia 14 por 14 [horas]. E aí eram três meses e meio de curso preparatório, começou dia 12 de agosto de 2008 e iria até dezembro. No final de setembro, outubro, foi quando parou o meu curso. Não era uma coisa que eu queria tanto, estava mais pelos meus pais. Obviamente vendo o lado positivo disso, que era uma estabilidade, uma grande estatal. Acho que a questão do futebol na minha vida sempre foi muito viva, porque sempre me dediquei muito para que isso pudesse acontecer.
– Comecei minha carreira teoricamente como volante, mas passei num teste de zagueiro e consegui andar em todas as posições, tirando lateral esquerda e goleiro. Acredito que o entendimento, essa parte intelectual de gostar de assistir bastante jogos, de acompanhar os jogadores que admirava, me fez entender melhor os jogos. E me deu essa característica de jogar em várias posições e acabar sendo um coringa dentro dos clubes.
Como seria o seu trabalho na Petrobras?
– Mexeria com toda a parte elétrica da embarcação, da plataforma (de petróleo). Eu trabalharia de sete às sete, teria tempo livre para poder malhar, até porque não cheguei a trabalhar dentro da plataforma. Muita gente brinca, tive alguns primos que trabalharam dentro e falam que você trabalha na verdade 24 horas. E não tem o que fazer, é muito grande, mas não tem para onde sair, e falaram que quando chovia era um pouco desesperador. Eu não cheguei a pegar isso, graças a Deus.
Sua mãe era advogada, seu pai trabalhava no meio do futebol. Acredita que sua formação nos estudos ajudou no futebol?
– Eu odiava ler, acho que toda criança, poucas gostam de estudar, de estar no colégio. Mas sempre fui um cara que prestava muita atenção, às vezes quando tinha dificuldade era difícil de conseguir perguntar, tinha um pouco de vergonha. Dos textos que coloco na minha rede social, 99% são feitos por mim. Em 2014, em dezembro, quando venho do Cametá, Brasiliense, acho que foi a minha virada de chave para poder chegar aonde cheguei. Foi quando coloquei metas na minha vida, hoje já li mais de 120 livros, a maioria de finanças.
Quando parar de jogar vai seguir no futebol?
– Para ser bem sincero, vou precisar tirar uns dois, três anos sabáticos. Eu tenho muitos desejos para curtir, de vida, viajar. Meus filhos têm nove, sete anos e passei um Dia dos Pais com cada um. Além de ser pai, sou filho. Toda vez que vejo meus pais, a cada quatro, cinco, seis meses, você os vê envelhecendo e tem uma coisa que não volta na nossa vida, o tempo. E me emociona, porque tem muita gente que cobra, critica e não sabe o quanto é fácil voltar para casa, ter seu pai, sua mãe, numa data festiva. A gente sofre à distância, e o tempo não volta mais. Meu pai já está com 66 anos, então, as coisas que nós conseguimos fazer quando era mais novo vão diminuindo. E me preparei para poder viver eles assim.
– Quero ter o mínimo do futebol, ter a carteira da licença PRO, um curso de gestão. Não penso hoje em trabalhar no meio do futebol. Com certeza os dois, três primeiros anos de aposentadoria não vou trabalhar, mas acho que o mínimo que o atleta pode fazer é estar no meio. Agradecer por tudo aquilo que conquistamos. Mas o que mais quero é poder aproveitar meus filhos. Nunca levei meus filhos no primeiro dia de aula. Você não sabe o quanto isso me machuca, meu filho me cobrou, ele sabia que eu pararia no final do ano, ele falou: "pai, você tem dois anos de contrato". "Mas é por nós, porque o seu pai ainda precisa". Não pelo financeiro, mas acho que ainda preciso mudar a vida de pessoas. Acho que vim ao mundo para isso, acho que tenho conseguido fazer dentro da minha carreira.
O que o futebol te deu?
– É difícil falar de nós, mas acho que o que sou mais grato pelo futebol é poder ajudar pessoas. E obviamente que a gente não fala isso direto do financeiro. Óbvio que não sou o dono da razão, mas sempre indiquei livros, coisas que acho que mudaram a minha vida para que as pessoas pudessem ler. Mas acho que o maior gol está por nascer. Poucas pessoas sabem o meu outro lado, mas estou fazendo um Instituto do Autismo para 120 crianças, e é com recurso próprio. Isso é muito satisfatório para mim. Eu não entendia nada de autismo, até pensei naquele momento que pudesse ter algum filho autista e fizemos todos os exames. Mas comecei a estudar, fiz todo o projeto e já comecei a levantar isso em janeiro de 2023 para ir devagarinho, até porque o custo é alto. Eu fui fazendo aos poucos e está vindo. Se Deus quiser, dia 20 de julho vou estar lá para poder inaugurar.
E o que tirou?
– Tirou meu tempo. Eu sou muito grato, feliz ao futebol por tudo que me deu, mas sou muito triste em não poder levar meus filhos no colégio, no futebol, na natação, de ter mais tempo de qualidade com eles. Às vezes a gente passa 40 dias no ano, que são as férias de julho e de dezembro, mas normalmente quando estou jogando não consigo me entregar, porque você necessita dormir, se alimentar, tem os treinos, concentração e jogos. Quando chega as férias de dezembro, a gente vive muito, esquece totalmente as redes sociais, o celular, quem quiser falar comigo vai ter 15 a 20 minutos no dia, porque não troco eles por nada.
O que te levou a criar esse instituto?
– Tem coisa que Deus fala para a gente que toca no coração. Fui saber que tinha um filho de um primo que era autista, o Davi, em São João Del Rei-MG. É mais uma pessoa que vou ajudar. Eu o encontrei quando a gente estava em um restaurante na cidade e o vi com a faixinha (se referindo a um cordão de identificação), fui comentar com o pai e ouvi que ele já estava em um grau maior. Eu vou tentar colocar os melhores profissionais. Estou participando de todas as fases, peço que todo mês eles me enviem um vídeo para poder, quando inaugurar, fazer primeiro só o terreno, depois crescendo… Fazendo tudo. Óbvio que muitos dos profissionais são parceiros, mas quero que sejam todos remunerados, e o custo do meu instituto vai ser R$ 50. Eu só quero o compromisso do pai conosco, para nós não perdermos horas, não perdermos tempo. Eu quero vivenciar isso, quero estar lá no dia a dia. Sou o presidente, inclusive, do instituto.
Como está se sentindo no Santa Cruz?
– Estou me sentindo bem, bem fisicamente. Eu fiquei quatro meses sem treinar, foram seis meses sem jogar. Mas estou feliz. Tem a tia da cozinha que comento, ela parece muito a minha avó e desde que cheguei aqui, ela me dá um beijo todo dia. Eu vou lá cumprimentar (os funcionários), vou dar uma boa tarde, um bom dia, eles estão sempre sorrindo, a comida daqui é muito boa.
– E falo que não tem dinheiro, o Santa Cruz, todo mundo vendo isso, está numa dificuldade muito grande. Mas aqui tem muito amor. É dos massagistas que estão aqui, Peninha, Catatau, Seu Santos, pega os roupeiros, o Marcelo, Robinho, a tia da cozinha. Todo mundo feliz, isso me motivou a fazer diferente. Estou motivado para estar aqui, e aí a minha motivação maior hoje é mudar a vida de pessoas. Eu sei que se a gente sobe esse clube para a Série C, para a Série B, automaticamente vai mudar a vida desses funcionários que estão aqui dentro há tanto tempo. E acho que pode ser minha última cartada dentro do futebol, se for o meu fim.
Ainda pode alcançar o alto nível que o levou para a Seleção há pouco tempo?
– Um exemplo: Neymar, Cristiano Ronaldo e Messi não precisam muito dos companheiros para decidir uma partida. O Galhardo conseguiu todos os objetivos perante o grupo. A maioria dos gols da minha carreira foi sempre dependendo dos meus companheiros. Desde que cheguei aqui tenho visto que eles estão tentando de toda forma me ajudar dentro de campo. Eu não sei quanto tempo tem que não me sento numa bicicleta, mas, se pegar uma bicicleta hoje, vou andar. É como o futebol. Espero que aqui os gols possam voltar a sair, dentro do pensamento que tenho de um gol a cada 180 minutos jogados.
E aquela repercussão da declaração de que sua contratação "mexeu com o Brasil"?
– Se não tivesse mexido, tantas pessoas não tinham falado. Quantas milhares de pessoas não fizeram vídeo comigo, quantos amigos não me ligaram para mexer comigo, brincar. Nunca recebi uma ligação quando fui para o Inter, por exemplo. E chego ao Santa Cruz, dou a declaração e todo mundo me liga: "tá maluco?". Acabou que isso repercutiu, reverberou, todas as páginas postaram. Tenho um pessoal que trabalha para mim levantando números em rede social. Foram mais de 60 milhões de acessos. Cara, você atingiu esses 60 milhões de pessoas através de rede social, não é fácil, são poucas pessoas que conseguem isso. E tenho 650 mil seguidores, deu quase mil por cento a mais (de engajamento). Fiquei feliz.
– Minhas falas não foram impensadas. Quando cheguei diante dessa declaração, fiquei com medo do vestiário, porque você acaba tomando uma proporção muito grande. São pequenos detalhes. Os seguranças aqui não me deixam mentir (em direção aos funcionários que escutam a entrevista), eles viraram para meu carro e falaram: “Não esperava ver um carro assim desde o tempo do Grafite". Então, são pequenos detalhes que você vai vendo as coisas, só que você consegue conquistar as pessoas pelas atitudes, não pelas suas falas.
Você se definiu, no ano passado, como "um vulcão em erupção". Por quê?
– Vou abrir o meu coração, falando coisas que nunca falei. Eu sempre brinquei que sou vulcão em erupção, que às vezes fica adormecido. O que é isso? Dependia do clube me mover. Minha avó morreu dia 17 de novembro de 2019. Foi a única perda que tive na minha vida até hoje, espero que isso perdure por muito tempo ainda. Nunca me imaginei tocando ali, numa pessoa morta e a vi como se ela estivesse em vida ainda. O sonho da minha avó era que eu jogasse na Seleção. Naquele dia ali no caixão, fiz uma oração e falei: "Seu sonho a partir de agora passa a ser meu". Eu quero realizar o sonho de todas as pessoas ao meu redor.
– Para chegar à Seleção você tem que abdicar de muita coisa. Eu não contei isso para ninguém. Foram 130 dias sem me relacionar com ninguém, isso falo de ter uma relação sexual, nada. Abri mão de bebida, de tudo. E às vezes, quando falo de bebida, a gente acha que é de tomar um vinho. Nada. Eu me preparei para aquilo. Aquele momento do Inter foi porque trabalhei para o futebol. Deus é tão perfeito que o jogo foi contra o Uruguai, no Uruguai, dia 17 de novembro de 2020. Eu estava lá com a mão no peito cantando o hino e chorei. Eu estava ali por ela.
– As pessoas queriam que eu voltasse para a Seleção, mas ninguém perguntou se o Thiago queria. Sou muito grato a tudo o que passei, vivi os quatro dias, foram fenomenais, mas quando retorno, não queria mais voltar para a Seleção. Eu tinha realizado o meu sonho. Acho que merecia convocações anteriores até, mas depois que fui aquele dia entendi que não era para ir. Tinha um propósito maior, tem coisa na nossa vida que é para se viver uma vez só, porque é a nossa vontade, nosso desejo, e aquele dia foi assim.
Hélio dos Anjos te chamou de "garoto problema" no Goiás. Outras pessoas dizem que você é chato, marrento... O que você diria a elas?
– Marrento acredito que eu possa ser. Acho que sou um cara que brinco com os torcedores, o cara vir pedir para tirar uma foto é uma coisa. Agora, falar de futebol com você num momento de lazer, passeando, ele não é amigo. Eles (torcedores) não conseguem entender isso. Então, às vezes você não dá a moral necessária que o cara quer. Meus filhos odeiam ir ao shopping comigo, não entendem que um "não" para uma pessoa vai ser levado de uma forma negativa para minha carreira.
– Quando você tenta ir contra o sistema é muito difícil. Eu passei por 20 clubes e só vi um capitão fora de série, e eu nem me dava tão bem com ele, o D’Alessandro. Então, o que eu falar na tua frente, vou falar na frente de qualquer um, não me importa o que é. E olha que não cheguei nesse alto nível de pessoas que podem falar o que querem. Mas não muda para mim.
– Eu fui problemático por onde passei porque sempre briguei pelas pessoas que acho que mereciam. O salário começa a atrasar? Eu vou brigar, vou vir aqui e falar, vou jogar isso porque, se eles (dirigentes) não resolveram inteiramente com a gente, tem de ser exposto, sim. Foi o que eu disse para o Hélio dos Anjos. Não vai mudar nada na minha vida, não me incomoda em nada, de verdade. O que me deixa triste é porque eles olham só o lado que a mídia fala, que os diretores falam e não procuram saber o outro lado. Sempre brinco: tem duas histórias e uma verdade. Posso dizer que em todos os lugares que passei fui 100% verdadeiro.
Como é que você se define em uma palavra, como pessoa e como jogador?
– Como pessoa, acho que grato. Gratidão, consegui o que muita gente espera as pessoas morrerem para fazer, homenagear, acho que essas coisas têm de ser feitas em vida. Eu, infelizmente, não pude cuidar da minha avó, mas financeiramente retribui tudo o que ela fez por mim. E para minha mãe, para meu pai, meus irmãos, meus filhos. Vale cada Dia dos Pais que perdi, tem valido a pena e vai valer até o meu último dia.
– Fiquei um ano e meio desgostoso do futebol, que foi minha passagem final para o Fortaleza e no Goiás. A hora que parar de fazer sentido, prefiro parar. Quando veio essa questão do projeto, por isso que disse na minha entrevista quando cheguei (ao Santa Cruz), se o projeto não andar, não falo de resultado, mas o que foi prometido, prefiro pegar minhas coisas e sair. E aí não tem acordo.
Os jogadores não falam mais o que sentem ou pensam?
– São um bando de medrosos. Hoje tenho visto mais atletas falarem, colocado para fora. Acho que alguns têm medo da forma como vai se posicionar, não tem a questão da leitura para poder ter a oratória boa para falar, então isso acaba não dando tanta credibilidade para ele falar. Eu acho que isso é o primeiro ponto. O segundo ponto, é muito mais fácil andar em cima do muro do que ir para algum lado. Sou esse cara, por isso talvez o "problemático". Eu nunca vou ficar em cima do muro. Se tiver que dar minha opinião, vou dar, seja ela certa ou errada.
– Em alguns clubes não me arrependo de nada que fiz, mas talvez a forma como falei foi de uma forma errada. Queria chegar num negócio, mas talvez por estar nervoso, falar um pouco mais alto, mais áspero, eu errei. É um aprendizado. A pessoa que fica em cima do muro pode pender um pouco para cá, volta, pender um pouco para lá. Isso não me passa confiança e trabalhei com muitas pessoas assim, não só dentro do campo, mas a comissão e diretoria. Eu tive o prazer de poder falar isso para eles sem problema nenhum. Tenho muito medo das pessoas que omitem. Acho que elas deveriam ser muito mais sinceras e seguras em si para poder se expor.
Como você lida com a imprensa?
– Tem um cara que eu admiro muito, que é o Eduardo, o Fui Clear. Ele é um cara muito sensato com as suas falas, sempre se preocupa com o bem-estar do outro. E o jornalista diz, vamos lá, o que vende? A notícia boa ou ruim? A boa não vende. O instituto do Galhardo não vai vender, mas a "chegada que para o Brasil" é a que vende. Então, você tem que saber o que falar.
– Nós somos pessoas formadoras de opiniões. Pelo nome talvez que hoje tenho, acho que consigo encher essa sala porque todo mundo vai querer ouvir o Galhardo, o que está acontecendo. Mas se for uma outra pessoa aqui dentro, será que você vai vir? Se for um menino da base, se for um jogador que ainda não teve uma ascensão, você talvez não venha. O que nós viemos a falar pode gerar problema. Tanto o positivo quanto o negativo. O torcedor que não viu nada, só viu a manchete, vai ficar com isso na cabeça. Nós temos que tomar muito cuidado.
O que achou da declaração do Raphinha antes do jogo do Brasil com a Argentina?
– Eu acho que o Raphinha não é o perfil desse jogador para falar aquilo. Muita gente falou que o Romário o levou a falar, induziu. Cara, ninguém induz nada em ninguém, não tinha nenhuma arma na cabeça dele. Só que você está dando entrevista para o Romário. Com todo respeito, hoje me relaciono bem com ele, sou muito amigo da família e tudo, mas é o Romário, gente. Não dá para você normalizar. Ali teria que ter sido sido um Neymar da vida, que estaria preparado para poder tomar (porrada).
–O Raphinha sentiu muito isso. Se eu estou naquele jogo e o Dibu dá aquela pancada no intervalo, a gente vai para as vias de fato. Ele falou de uma forma natural, vamos para lá para ganhar. Só que os argentinos são bons no que eles fazem. Se nós, brasileiros, que temos 220 milhões de habitantes, soubéssemos a força que temos, estou falando de todas as áreas, e principalmente no futebol, de se unir, deixar a vaidade, voltaríamos a ser os melhores no mundo. Nós temos os melhores no mundo.
Como foi sua experiência atuando na Espanha?
– Foi incrível, uma coisa absurda, porque era um sonho poder jogar fora do país. Uma pena que o Messi saiu um ano antes. Eu sempre tive o desejo de jogar contra Messi, Cristiano Ronaldo, esse sonho infelizmente não pude realizar. Vigo é uma cidade menor, as pessoas te abraçam de uma forma absurda, tanto que quando acaba o jogo, o estacionamento é a um quilômetro, você sai andando normal. Alguns jogadores africanos, que eram das seleções, tinham um bom tratamento.
– O Vinicius Junior é um cara de luz, que está fazendo história. Saiu daqui com todo mundo duvidando da capacidade dele, se fechou com a família, conseguiu grandes conquistas, fez gol em final de Champions. Ele só não ganhou ainda a Copa do Mundo, mas ganhou pelo Flamengo, pelo Real Madrid. Então, ele incomoda, mas aqui ele é muito aclamado por nós. Você nunca vai ver alguém aqui no Brasil fazer algum racismo contra ele. Quando as pessoas incomodam, infelizmente, viram alvo.
Os jogadores deveriam se organizar mais e melhor para poder opinar sobre decisões do futebol?
– Sem dúvida. São todos meio burros, todo mundo tem medo do que tem de ser dito. Todo mundo se preocupa mais consigo próprio e normalmente quem tem essa força são pessoas bem resolvidas, grandes nomes, de grandes clubes, de seleção brasileira. Eles não estão preocupados em fazer isso.
Thiago Galhardo é o último sincerão do mundo da bola?
– Acho que o Neymar está muito sincero também, tem soltado umas até mais que o Galhardo, até por conta de que ele é muito mais alvo do que eu. Mas acho que igual ao Romário não tem, acho que ele foi o cara mais sincero que vi no mundo do futebol. Mas me acho muito sincero, de ter personalidade forte e tudo, mas não que seja o dono da razão. Porque provavelmente as pessoas vão pensar isso, acham marrento, que passa esse ar, mas quem convive comigo sabe.
O meio boleiro é bem de direita e você sempre se posiciona. Qual é o lado do Thiago Galhardo?
– Consegui mudar durante o tempo. Os primeiros governos do Lula foram muito bons, vamos ser bem sinceros, mas da Dilma para cá acho que foi um fiasco. As pessoas acreditaram em muitas coisas: "ah, mas ele fez o Bolsa Família, fez isso, aquilo". Beleza. Mas você não pode pensar só nas pessoas mais necessitadas, tem que pensar de uma forma geral. Eu sou do outro lado, deixo claro. Gostei muito do governo Bolsonaro, teve as falas que deixam muito a desejar, porque nós, seres humanos, queremos ouvir as coisas bem bonitinhas, né? Então, às vezes a forma de se expressar não foi a que deveria, mas não tenho problema nenhum em assumir.
– Eu nunca tinha votado em nenhuma eleição, sempre paguei a multa. Fiz questão de votar no Bolsonaro, porque achei que seria um grande líder, e acho que ele conseguiu melhorar muitas coisas no país. Mas um cara que foi atacado com uma facada, isso é raro acontecer, é difícil de se ver. Quer dizer que ele já estava incomodando lá atrás, que as pessoas sabiam do poder dele, então isso me mostra que estava certo. A questão do jogador, como eu falei: ninguém vai se posicionar, ninguém tem coragem de falar, de se expor. Vive sempre a mesmice, atrás de uma nota para se defender, e falar que o jogo foi bom, a gente vai manter o professor. Isso acho que é errado. As pessoas têm que conseguir se posicionar de forma que faça valer sua palavra.
Vocês nunca conversaram sobre política nos vestiários?
– Não, é muito raro. São poucas as pessoas que se preocupam com isso, a maioria fala que tanto faz, é indiferente quem esteja no poder. O que muda para quem de fato é empresário e tudo mais, então o jogador de futebol acaba que não tem esse estudo, são poucos. E não é falando mal. A maioria (dos jogadores) vem sem estrutura familiar e ganha dinheiro. Ou, às vezes, ganha um pouco de dinheiro e acha que aquilo é muito. A primeira coisa que o jogador faz é comprar um carro. A segunda coisa é comprar uma casa, que ele vai dividir. Então, ele não tem nem o carro e nem a casa.
– Eu lembro quando cheguei ao Botafogo em 2011, já ganhava um salário legal e comprei um Uno. Mas não era minha realidade (comprar carros de luxo), tinha que entender naquele momento. Hoje qualquer atleta que sobe e ganha seu salário vai comprar um carro de R$ 200 mil, R$ 300 mil. Vai dar R$ 20 mil, R$ 30 mil de entrada, financiar, pagar juros. Eu, como sou contra juros, acho que é a forma errada de pensar.
O Thiago Galhardo teve desafetos na carreira?
– Não tenho, porque não guardo mágoa de ninguém, sou muito tranquilo quanto a isso. São ciclos. Tive um problema ou outro, mas desafeto de falar que odeio aquele cara, de desejar mal... Acho que isso não faz nem bem. Isso volta de alguma forma. Não tenho rancor nenhum, por mais que as pessoas às vezes falem de mim.
– Tem um zagueiro (Leandro Castán) que gosta de aparecer bastante, aquela entrevista dele… Fala outra coisa da entrevista dele, você não sabe, não saiu nenhum corte, só tem corte comigo. Você sabe onde ele se aposentou? Você sabe qual foi o último clube dele? Você não vai saber, ele só apareceu depois da aposentadoria. Se ele não falar de mim, não vai aparecer. Então, tem coisas que o meu nome, querendo ou não, é grande, pesado, acaba trazendo isso. E mostra quando falei: "mexi com o Brasil". Eu não tenho mágoa de ninguém. Se eles têm comigo, o problema é deles, mas para mim está tudo bem encaminhado.
Você disse que quando se aposentar quer escrever um livro. Quem vai ler a sua biografia?
– Eu vou ser bem sério, bem ousado. Acredito que o meu livro vai ser best-seller. Porque a minha história de vida é muito legal. Para quem gosta de ler e saber tudo o que passei da minha infância, minha trajetória da Petrobras, futebol… Devo ser o único (jogador) do mundo concursado que larga para jogar futebol… Vai ter a briga do Valentim, com o Castán e o Taison. São coisas que ainda não joguei, que todo mundo vai querer saber.
– Tenho o meu bloco de notas e o WhatsApp para poder mandar um áudio para passar a emoção que tive. Minha pretensão é lançar no meu aniversário de 2027, minha aposentadoria na teoria. Como ainda vou, teoricamente, ter mais um ano de contrato, não sei se vai vir em 2028. Mas dois anos depois da minha aposentadoria com certeza vou lançar.
Como foi a briga com o Valentim? Foi mesmo por causa de uma curtida no Instagram?
– Ele ficou louco. Quase trocamos socos, a verdade é essa. Foi muito bizarro o que aconteceu, porque me colocaram em uma sala dentro do Maracanã, mais ou menos como essa que nós estamos, e lá estavam Alexandre Faria, PC Gusmão, André e Valentim. Eles me colocaram de uma forma como se tivesse acabado de matar uma pessoa. E aí eu falei: "cara, vocês não são meus pais, qual foi?". Começamos a falar um pouco mais alto, o Valentim levantou, eu também me levantei, a gente quase foi para as vias de fato. Se o pessoal não segura, não ia dar para ele. Mas eu vi que ele não estava pronto para isso. O Valentim ainda está no início de uma carreira como treinador e quando chega alguém para confrontar com isso, que tem luz, acho que pode ser problema dele.
E a provocação do Gabigol depois do título do Flamengo e o vice do Inter?
– Tudo é normal, chato é não ter mais a provocação. Quando fiz depois do Gre-Nal não foi por isso, o cheirinho. Foi porque o Matheus Henrique, que hoje está no Cruzeiro, jogava no Grêmio, e eles ganharam de nós o estadual. Ele que soltou uma piadinha e postou no Twitter, um cheirinho. Só que me assustei até porque já me assumi, sou flamenguista. Em 2009 só não vi um jogo, Flamengo x Goiás. Assisti aquele brasileiro todo, parecia que estava dentro de campo. Então, tem coisas que não mudam.
– Depois, óbvio, você larga um pouco, joguei no Vasco, no Botafogo e hoje tenho o maior carinho pelo Vasco, até mais do que pelo Flamengo. Mas antes de se tornar (profissional), você tem (time para torcer). Fiz uma provocação antes de acontecer qualquer coisa, eles só fizeram depois. Se tiver coragem de colocar a cara é depois do que aconteceu, mas acho que a zoação faz parte, que tem que ser dessa forma saudável, está tudo bem para mim.
Ainda na sessão de tretas, o Taison não passava mesmo a bola para você?
– Nem no treino e nem no jogo. Burro. Eu era o cara do momento, estava no momento ímpar da minha carreira, da minha vida, com a minha família. Ele enciumou não sei por quê, se ele comprou a briga do D’Alessandro ou dele. Não sei dizer o que aconteceu, vou até revelar mais uma coisa. Eu que iria anunciar a contratação dele, os caras já tinham combinado comigo. Era uma coisa que a torcida queria, e eu era o cara do momento. Vinte e quatro horas antes, falaram: "não, Thiago, não vai ser mais você", e não entendi mais nada, mas respeitei. Você é pago para estar ali e para cumprir ordens. Ele é um cara que posso dizer que é falso, não olha no olho para falar, não sei nem se para entrevista ele consegue olhar no olho, porque é um cara muito duvidoso. Ele não é esse tipo de burro, ele é totalmente pendendo para o lado que acho negativo.
O que rolou com o Kleber Gladiador?
– O Kleber foi um cara que tive medo, mas a história foi em jogo contra o Joinville, do Brasileirão de 2015, de rebaixamento direto. Entrei no vestiário e falei: "porra, no treino bate que nem um leão, chega no jogo e faz um gatinho". Ele se levantou, obrigado aos companheiros que separaram, senão nem estaria aqui. Mas foi tão tenso que depois tinha medo, nos treinamentos fiquei com medo de verdade, esperava ele ir embora para tomar banho, fazer minhas coisas. Essa aí foi a única vez. Ele é um baita profissional, que me ensinou muito, a gente só teve esse problema. Foi até um erro meu, não um erro dele, e peço desculpa. Tive a oportunidade de falar com ele depois. Eu tinha medo de falar, mas se encontrasse ele queria muito dar um abraço, agradecer, porque ele me ajudou muito, como 9, para virar o que eu virei. Eu o olhava muito jogar, o posicionamento.
Como está o seu psicológico? Continua ainda hoje na terapia?
– Hoje é que preciso mais. Estou há três anos e meio fazendo tratamento, tem até psiquiatra. Hoje faço psicanálise. É um momento que você extravasa, coloca para fora, ouve também algumas verdades que, às vezes, não quer ouvir. Isso me faz muito bem. Se eu tivesse esse entendimento, essa maturidade para começar, teria feito muito melhor para mim, teria sido muito melhor. Mas tudo acontece no momento que tem que acontecer, nada é por acaso.
Tomo uma medicação todos os dias para conseguir me manter mais tranquilo, tem me feito muito bem. Acho que de 2023 até o final do ano passado, o futebol parou de fazer muito sentido para mim, vi muitas coisas erradas acontecendo.
— Thiago Galhardo
Quais as dores que te levaram para a terapia?
– Tenho muitas dores no meu passado, traumas, gatilhos, alguns tenho até vergonha de contar. É uma parada mais íntima. No meu livro vai ter. Então, não vou responder nada até lá. Eu sou um cara que fui acostumado a não chorar. Hoje consigo ter um pouco mais de sensibilidade ao choro, mas ao mesmo tempo que quero chorar meio que seguro, porque fui acostumado. Até com eles (meus filhos) tive essa dificuldade.
– Hoje estou tendo um pouco mais de facilidade, mas é difícil ainda para mim chorar na frente dos meus filhos, dos meus pais, porque você quer passar aquele homem durão, só que às vezes chora sozinho debaixo de um chuveiro, quando você está sozinho na cama. Quantas vezes eu não passei isso? A única pessoa que esteve ao meu lado é a minha secretária, que mora comigo há cinco anos. A gente conversa bastante, ela solta um pouco das dores dela, solto um pouco das minhas, acho que foi uma mulher que, no futebol, conviveu mais tempo comigo e sabe das maiores dores que tive.
Como foi ter vivenciado aquele ataque ao ônibus do Fortaleza?
– O ataque é uma coisa que não pode acontecer, assim como a briga que teve aqui (do clássico, em que um homem torcedor do Sport foi violentado sexualmente). Agora o que me indaga muito é a mãe de um dos ocorridos falar que era um menino direito, sendo que há um ano ele estava jogando uma bomba em pais de família, que só saíram para trabalhar. Acho que todos eles têm de ser presos. Não temer pela vida de ninguém é muito difícil, é muito doloroso. Hoje as pessoas roubam, matam com facilidade, está tudo muito difícil. Andar com o carro blindado hoje não é luxo, é obrigação.
–Aquele ataque mexeu muitas coisas comigo. Estou há 17 anos no futebol, nunca curti um carnaval, não sei o que é. Tenho a fama de baladeiro, mas você nunca vai me ver numa balada. Aí você vai num evento 7h30 da noite, depois daquilo tudo, voltei para a vida normal, fui embora às 10h da noite, o que fiz de errado? Era a gravação do DVD do Henry Freitas, o que fiz de errado? Estava com o meu empresário, depois do jogo, nada de errado. Só que as pessoas preferem atirar pedra, é muito mais fácil do que entender, né? Como nunca liguei, por isso estava lá. Nada disso mudou muito a minha cabeça, mas começa a encher o saco. É por isso que eu não saio, sou um cara inacessível. Você não vai me ver no shopping, numa balada, num evento.
Nós falamos sobre dores, medos e traumas. Mas qual é o lado bom de ser o Thiago Galhardo?
– Eu sou um cara muito feliz. Apesar de todos os problemas, que todo mundo tem, sou um cara sorridente, estou sempre brincando. Muitos jogadores, não hoje aqui dentro, mas já me perguntaram: "você nunca está triste?". E muitos funcionários falam: "sua alegria contagia". Eu falo um caso específico: a tia que está aqui em pouco tempo percebeu isso, a Toinha, do Fortaleza, a Patrícia e a Alessandra, do Inter, que todo dia falavam: "cara, eu quero te ver todo dia para poder ver essa sua alegria, a gente tem tantos problemas, você não consegue transparecer isso". Sou sempre esse cara feliz, alegre.
Você prefere o anonimato ou o protagonismo?
– No campo, quero o protagonismo sempre. Fora dele, hoje, se pudesse ser um cara desconhecido, queria muito. Mas, quando parar, o Galhardo não vai ser esquecido, até porque tenho outros mil negócios que posso continuar. Na mídia, ser um comentarista, Big Brother Brasil. Nunca teve um atleta lá (BBB). Então, imagina um convite desse daqui a pouco? A diferença só está no seguinte: o futebol acabou, você já não tem mais a cobrança de cinco milhões de torcedores.
– É como eu digo: o músico tem a mesma fama, mas ele pode estar tomando sua cerveja, pode fazer uma viagem esporádica, e ele está livre disso. Nós não. Eu tenho um dia de folga, as pessoas não vão entender. Perdi um jogo ontem, hoje estou de folga e quero ir à praia com os meus amigos. Eu não posso. Na cabeça deles (torcedores) é isso. Acho que vou ter uma vida mais normal. Quando estou de férias, vivo como se fosse uma pessoa qualquer, pinto meu cabelo de branco e esquece, vou viver do jeito que eu sempre quis viver e vivo.
Diga curiosidades que ninguém sabe sobre Thiago Galhardo.
– Sou apaixonado por Fernando de Noronha. Amo viajar, viajei para 26 países, mais de 150 cidades, mas nunca vi um lugar como o Noronha. Amante do pôquer, gosto muito de jogar nas horas vagas, ler. Estou sempre lendo livro de finanças, adoro trocar as experiências, hoje estou mais aberto a ler outros. Até entendo um pouco, mas quero me aprofundar um pouco mais.
– Não gosto de ver futebol. Vou parar para ver futebol só se de fato não estiver fazendo nada, gosto de ver uma série, de passar o dia sem fazer nada na folga, ficar em casa. Amo ver o Fantástico no domingo, acho que consegue passar tudo o que aconteceu na semana. O domingo para mim é sagrado. Amo comida japonesa. Tenho umas três tatuagens. E teve uma coisa que esqueci de falar, de curiosidade: estou compondo músicas. Tenho três músicas apenas. O Yuri (Ferraz, lateral-direito), inclusive, também compõe muito bem. E aí a gente já está nessa parceria de começar a lançar. Mandei para algumas pessoas, todo mundo gostou bastante, acredito muito que ela possa virar porque a letra é falando de fé, de crença, porque não olha para você e por você.
– Zé Neto e Cristiano falaram de uma (música) que passou por eles há cinco anos, mas não pegaram. E cinco anos depois virou um bom sucesso. Então, são esses tipos de coisas que me motivam. Eu gosto de fazer o diferente. Eu aprendi em um dos livros que li: "ganhar dinheiro com o que você sabe fazer é mole, mas fazer dinheiro com coisas novas é essencial". Quando li isso no livro eu entendi que a gente tem que abrir várias fontes para poder trazer para nós. E descobrir o que a gente tem. Eu não sabia tocar violão, a pandemia me ensinou uma coisa. Adoro tocar violão. Passo horas sozinho em casa tocando, tirando música e tudo.