A CONMEBOL Sul-Americana também é palco de encontros improváveis. Nesta terça-feira (8), em São Januário, com transmissão ao vivo no Disney+, a partir das 21h30 (de Brasília), o Vasco viverá essa experiência diante da Academia Puerto Cabello. Afinal de contas, o assistente técnico do clube venezuelano é homônimo do Cruzmaltino.
Aos 44 anos, o português Vasco Faísca ainda vive os seus primeiros meses na América do Sul. E já terá pela frente mais um campeão continental, após encarar o Lanús pela estreia no Grupo G. Em entrevista à ESPN, o assistente não escondeu a expectativa de ir a São Januário e brincou sobre encarar pela primeira vez um adversário que carrega o mesmo nome.
Faísca também mostrou que conhece a história do Vasco. Incluindo o ano de fundação do clube brasileiro e até mesmo de alguns craques que já desfilaram nos gramados pelo Cruzmaltino, como Romário e Edmundo.
"Para mim é engraçado, vai ser a primeira vez que vou jogar contra um clube que tem o meu nome. Nós em Portugal conhecemos perfeitamente esse grande clube brasileiro, nós acompanhamos muito aquilo que se passa no Brasileirão. Até porque cada vez mais existem muitos técnicos e também alguns jogadores a atuarem no Brasil e, portanto, vamos acompanhando. Mas honestamente, não era preciso acompanhar muito para saber que o Vasco da Gama é um dos grandes clubes do Brasil. Neste caso também é um clube com o meu nome, há esta coincidência, é sem dúvida uma situação anormal, mas é engraçada", disse.
"Sabia nomeadamente da origem do clube (Vasco), que foi fundado por portugueses e que, no ano em que foi fundado, em 1898, o nome foi dado porque também se celebravam os 400 anos da chegada do Vasco da Gama, navegador português, às Índias. E esses portugueses acharam que era um bom motivo para celebrar o feito desse grande navegador português, e fundaram esse grande clube, que hoje é o Vasco da Gama. Sei um bocadinho da história", prosseguiu.
"Conheço todos eles, todos mundialmente famosos... Romário, Edmundo, Juninho (Pernambucano). Me lembro perfeitamente do Romário no Vasco. Isso diz da grandeza do clube, é sem dúvida nenhuma um dos maiores clubes do Brasil, também da América do Sul. Um clube com milhões e milhões de torcedores, uma grandeza enorme".
Esta será a primeira vez de Vasco no Brasil. E Faísca se mostrou animado em conhecer o Rio de Janeiro e poder jogar em um estádio histórico como é São Januário. O membro da comissão técnica de La Academia também mostrou que já sabe o quanto a torcida adversária é apaixonada.
"Nunca estive (no Brasil), queria muito ir ao Brasil. Já há muito tempo que tenho essa viagem na minha caixinha dos desejos. Calhou agora com essa situação profissional, gostaria também talvez de ir (ao Brasil) como turista, de ir conhecer um pouco mais. Mas o fato de ter calhado com um clube do Rio de Janeiro me deixou extremamente feliz, sei que é uma grande cidade, uma cidade muito bonita. Tenho muitos amigos brasileiros, joguei com dezenas ou talvez centenas, e as indicações que têm em relação à cidade do Rio de Janeiro é como diz a canção, é a cidade maravilhosa. Portanto, tenho muita curiosidade de conhecer o Rio de Janeiro", revelou.
"Já vi jogos do Vasco da Gama na televisão. Sei que é uma torcida muito quente e, acima de tudo, muito grande. O Vasco tem milhões de torcedores, portanto, é um clube com uma dimensão muito grande e, normalmente, esses clubes têm sempre uma torcida muito fervorosa, muito grande, muito exigente. Estamos à espera de um estádio com muita gente. Sabemos que, por um lado, isso será uma dificuldade acrescida para nós, mas ao mesmo tempo também é para isso que nós, profissionais do futebol, vivemos para podermos viver esses momentos", disse.
"Eu antes mais gostaria de comer um bolinho de bacalhau com o pessoal lá na tribuna (risos)", brincou.
O representante português do Puerto Cabello ainda projetou o duelo contra o Vasco no Rio de Janeiro e que sabe que a vida dos venezuelanos não será fácil na Cidade Maravilhosa.
"Vai ser um jogo muito difícil para nós, temos essa consciência, somos um clube menor, que atua em um campeonato menor, como o da Venezuela, mas, obviamente, vamos querer deixar uma boa imagem para o clube. Vamos tentar fazer o nosso melhor sabendo que vamos jogar contra uma grande equipe, uma equipe que tem nomes como o Philippe Coutinho, que é sem dúvida um nome do futebol mundial, não só do brasileiro. Sabemos que vamos atuar contra um clube de uma dimensão diferente da nossa, uma equipe diferente da nossa. Com certeza teremos muitas dificuldades, ainda mais jogando em São Januário, com a torcida apoiando vai ser ainda mais difícil".
'Discípulo' de Jorge Jesus
Nascido no Algarve, no Sul de Portugal, Faísca foi zagueiro e passou quase toda a carreira em clubes do seu país, como Sporting e Belenenses, e também da Itália e Grécia. Pela seleção portuguesa, atuou somente pelos times de base.
E durante a passagem pelo Belenenses, de Lisboa, teve ninguém menos do que Jorge Jesus como técnico. E apesar da experiência curta sob o comando de JJ, que durou seis meses, o ex-técnico do Flamengo deixou um legado na sua carreira.
"É um treinador extraordinário, e sem dúvidas para mim, talvez a minha maior referência e influência como treinador. Aquilo que eu tento ser hoje enquanto treinador é muito do que aprendi com o Jorge Jesus. Foi pouco tempo, só trabalhei com ele 6 meses, mas em 6 meses deu para ver e para aprender muito com um grande treinador", contou.
"A ideia de jogo do Jesus é impressionante. É aprender todos os dias. Hoje em dia há muito trabalho tático por parte de todos os treinadores, mas há treinadores que têm ideias melhores que os outros, e o Jorge Jesus, um modelo de jogo muito bom. Ele junta todas aquelas peças, aquilo funciona, e os jogadores reconhecem todos no final que este treinador é muito bom. E foi isso o que me aconteceu também, há muitos anos, quando fui treinado por ele no Belenenses, foram só 6 meses, mas deu para perceber que estava na presença de um treinador completamente diferenciado dos outros", prosseguiu.
Após a aposentadoria dos gramados, em 2017, Vasco Faísca iniciou a carreira como técnico. E antes da aventura na Venezuela, treinou o time B do Braga, o próprio Belenenses, e outras equipes menores de Portugal como o Farense. E teve a chance de conhecer outros técnicos que fazem – ou fizeram – sucesso no Brasil, como Abel Ferreira, no Palmeiras, e Artur Jorge, campeão da CONMEBOL Libertadores e do Brasileirão com o Botafogo em 2024.
"Conheço os dois muito bem. O Abel conheço há muito tempo, chegamos a jogar um contra o outro, já falei com ele uma ou outra vez. O Artur Jorge, na altura que trabalhei no Braga, ele foi treinador do sub-19 e sub-23, portanto convivíamos diariamente. Quando o Artur foi treinar o Botafogo, é óbvio que acompanhei com algum interesse. O Abel tem feito um trabalho extraordinário no Palmeiras, o Artur fez um trabalho extraordinário ao ganhar a Libertadores e o Campeonato Brasileiro. Neste momento, os treinadores portugueses aí no Brasil estão de fato em alta. Isso me deixa contente e orgulhoso, sou treinador, português, e acredito que os treinadores portugueses de fato estão entre os melhores do mundo, e aí está a prova disso".
Vasco Faísca também revelou ser fã do futebol brasileiro e citou a seleção tetracampeã em 1994, com Bebeto e Romário no ataque, como a sua favorita.
"Essa (seleção brasileira) de 82 com o grande Sócrates no comando foi uma grande seleção, gostava muito. Só que nessa altura eu tinha dois anos, e só vi um pouco mais tarde imagens dessa seleção e gostei muito. Mas talvez aquela que mais me marcou foi aquela que o Brasil foi campeão do mundo em 94, nos Estados Unidos. Na altura eu era um jovem adolescente, 14 anos, amante de futebol, e ver aquela dupla Romário e Bebeto na frente e tantos outros jogadores, com o capitão Dunga também, com o Ronaldo 'Fenômeno' no banco, liderada pela Carlos Alberto Parreira, para mim ficou na memória. Gosto muito dessa magia brasileira, dessa arte, dessa capacidade técnica, desse futebol mais alegre, que sempre distinguiu o Brasil e, portanto, sou um apaixonado pelo futebol brasileiro também por isso".
'Condições extraordinárias para trabalhar'
Contratado pelo clube venezuelano na atual temporada, Vasco Faísca revelou os bastidores da sua chegada ao Puerto Cabello e elogiou as condições de trabalho que tem por lá. Incluindo um centro de treinamento à beira-mar.
Fundado em 2011 e com apenas 14 anos de história, o clube ainda não tem títulos no currículo, mas disputa pela quarta vez uma competição continental, sendo a terceira participação na Sul-Americana. Em 2024, a equipe estreou na Libertadores, quando disputou a fase eliminatória, mas acabou eliminado.
"Sendo muito sincero, eu na altura não conhecia [o clube] e nem conhecia bem o Campeonato Venezuelano. Aquilo que me seduziu muito foi o projeto do clube e essencialmente as condições extraordinárias que temos aqui para trabalhar, que é algo pouco usual em Portugal. Para mim, enquanto treinador, também é um prazer enorme poder trabalhar com estas condições. Foi isso que me trouxe para cá. Neste momento estou muito feliz, os resultados estão aparecendo, as exibições têm sido boas, conseguimos a classificação para a Sul-Americana. Estamos na luta também pelos títulos nacionais. Muito feliz com essa escolha que tive ao vir para cá", disse.
"Para a dimensão que o Campeonato Venezuelano tem, e a própria dimensão deste clube, não estamos fazendo de um clube gigante, tem um CT que é um sonho. Eu às vezes estou dando treino à rapaziada, estou vendo futebol e, em pano de fundo, estou vendo o mar, que é uma coisa de uma beleza extraordinária. Considero que nós todos que estamos aqui representando o Puerto Cabello somos privilegiados por termos condições muito boas, que de fato não devem nada a praticamente ninguém, em termos daquilo que o clube oferece. E para além disso, a própria situação geográfica do CT, estamos à beira da praia. Está o gol, e passados 2 metros está a areia da praia, é uma coisa extraordinária. Campos com um gramado de muita boa qualidade, com uma academia espetacular. Não falta nada neste clube".