O canto "o Vasco é o time da virada" nunca fez tanto sentido na arquibancada de São Januário. Com duas reviravoltas seguidas diante do Athletico-PR — Brasileiro e Copa do Brasil —, o cruz-maltino é o time da Série A com mais recuperações (5) desde que o técnico Rafael Paiva reassumiu o comando na vitória (de virada) por 4 a 1 sobre o São Paulo, em 22 de junho. Da briga contra o rebaixamento a oitava colocação do campeonato nacional, ele renovou a energia de uma equipe até então desacreditada pela própria torcida.
Antes do atual treinador, Ramón Diaz e Álvaro Pacheco fracassaram não só por conta de resultados negativos, como também pela postura "passiva" do time à frente de adversidades dentro do campo. Ciente desse problema, Paiva deu o primeiro passo para afastar o pessimismo ao organizar taticamente a equipe, principalmente o lado defensivo, com jogadores extremamente aguerridos a cada disputa de bola.
No início do primeiro turno do Brasileiro, o Vasco teve a "proeza" de sofrer 19 gols em oito rodadas, como a pior defesa da competição à época. Embora ainda esteja entre os quatro times mais vulneráveis defensivamente — 17ª colocação com 34 gols em 23 jogos —, a comissão técnica conseguiu implementar um estilo de jogo que valoriza a marcação para sair em transições rápidas no contra-ataque. Destaque ao volante Hugo Moura, que marcou dois gols nos jogos contra o Furacão, seu ex-clube, e foi de descartado a titular absoluto com o técnico.
Outro ponto que explica, de certa forma, a transformação do Vasco é o conhecimento de Paiva sobre os jogadores que subiram recentemente ao profissional. Antes de ser efetivado, ele era o comandante do sub-20, o que o diferencia por ter mais noção de como fazer, de fato, o aproveitamento da base. Prova disso é que jovens como Rayan, Leandrinho, JP e Estrella, que se recupera de lesão no joelho direito, passaram a ter mais oportunidades e destaque na temporada.
Além disso, é natural que a sequência de vitórias faça com que os atletas sintam-se mais confiantes para arriscar uma jogada ou executar um movimento sem titubear por conta da pressão da torcida. Por mais que o lado mental ultrapasse a função à beira do campo, o discernimento de Paiva sobre a importância de cada setor do clube mostra que as viradas de resultado são consequência desse processo.
— A gente tem tomado mais gols do que a gente gostaria antes de fazer. Mas acho que fica realmente a capacidade que a gente tem tido de se controlar. Tem um trabalho psicológico por trás, dentro de campo, multidisciplinar, de todos os atletas, para poder virar o jogo — destacou Paiva, na entrevista coletiva, após virar mais um jogo contra o Athletico-PR.
Das cinco viradas do Vasco sob o comando dele, quatro foram em São Januário (Athletico-PR duas vezes, Bragantino e São Paulo), o que mostra a reconexão entre o time e a torcida cruz-maltina. A outra, diante do Criciúma, fora de casa, teve um gosto amargo, já que o adversário empatou ao final da partida.
Como mandante, o cruz-maltino está na 8ª colocação geral, com 66% de aproveitamento, já, longe dos seus domínios, cai para 18ª, ao ter apenas duas vitórias e 21%. A discrepância de rendimento aponta que a solução dos problemas está realmente dentro de casa, ao mesmo tempo que cria um sinal de alerta, caso a bola das reviravoltas passem a não entrar.
— É um time que toma gol, mas não desmorona como acontecia com outros treinadores. Trouxe calma no jeito de trabalhar, com organização e estudo, além de acreditar que os jogadores podiam desempenhar bem mais do que estavam apresentando — analisa Conrado Santana, comentarista de futebol do Grupo Globo — Óbvio que é legal ter esse número alto de viradas, ainda mais para torcida do Vasco, que canta isso na arquibancada, mas, ao mesmo tempo, isso quer dizer que precisa melhorar o desempenho no começo das partidas
Em busca de garantir o oitavo jogo consecutivo sem derrota, a equipe de Paiva visita o Vitória, neste domingo, no Barradão, às 18h30, pelo Brasileiro.