O atacante Adson, do Vasco, voltou a fraturar a tíbia direita. Após duas cirurgias para tratar uma fratura por estresse, ele levou uma pancada em treino nesta terça-feira e sofreu uma nova fratura - desta vez, por trauma - e passou por nova cirurgia. Embora não haja muitos casos como este entre atletas de alto rendimento, esse tipo de recidiva é bem descrito na literatura médica. Entenda os detalhes nesta matéria.
Adson foi diagnosticado com a fratura por estresse na tíbia da perna direita ainda no ano passado. Após sofrer com muitas dores, ele foi submetido a uma cirurgia no início de setembro. A previsão inicial era de que ele pudesse retornar aos gramados cerca de três meses depois, mas teve complicações no processo de recuperação.
Em determinado momento, o atacante de 24 anos passou a sentir a placa de fixação raspando na perna e precisou ser submetido a um novo procedimento cirúrgico para retirá-la. Por conta deste problema, ele só retornou aos gramados em março de 2025 e, ainda assim, jogou pouco. Adson entrou em campo em 16 partidas, com média de 20 minutos por jogo.
Já nesta semana, em um treino de intertemporada no CT Moacyr Barbosa, no Rio de Janeiro, Adson sofreu uma pancada na região já afetada. Com um calo ósseo formado pela fratura anterior, a perna direita fez um movimento em alavanca que causou a nova fratura direta na tíbia. Ele passou por cirurgia nesta terça-feira e já deu início ao processo de recuperação.
O que é a fratura na tíbia
A tíbia é o segundo maior osso do corpo humano, conhecido como osso da canela, que fica na parte interna da perna, entre o joelho e o tornozelo. É uma estrutura longa, responsável pelo suporte do peso corporal e da movimentação. Ela está associada à realização de atividades como andar, correr e saltar, sendo essencial para um atleta.
A fratura por estresse na tíbia é uma microfratura óssea causada por sobrecarga repetitiva, sendo muito comum em atletas de esportes de impacto, como corrida e futebol. Ela acontece porque o osso não consegue se regenerar na mesma velocidade em que pequenas lesões vão se acumulando após treinos ou atividades físicas.
O tratamento inicial de casos de fratura por estresse não envolve cirurgia. Recomenda-se, essencialmente, o afastamento de atividades que geram impacto. Em caso de manutenção das dores ao longo dos meses, a cirurgia é indicada, como foi o caso de Adson. No procedimento, costuma haver a fixação interna com placa e parafusos ou haste intramedular.
Apesar do retorno ao esporte acontecer em alguns meses após a intervenção cirúrgica, a remodelação óssea pode durar até mais de um ano, como explica o médico ortopedista Adriano Leonardi. A fratura por estresse provoca micro danos repetidos no osso e, mesmo após a consolidação cirúrgica, a região pode permanecer com alterações na qualidade óssea.
Dessa forma, uma pancada em uma região que já sofreu estresse crônico apresenta maior risco de nova fratura, especialmente se a remodelação óssea ainda não estiver totalmente consolidada. Essa é uma das causas que influenciou a nova lesão de Adson.
- A fratura por estresse ocorre por sobrecarga repetitiva, geralmente em atletas de alto rendimento, como é o caso do Adson. Mesmo após a consolidação, a área permanece como um ponto potencialmente vulnerável, principalmente se o osso tiver passado por cirurgias, como foi o caso. Se houver um novo trauma direto na mesma região, a chance de fratura reincidente é real, especialmente se houver alguma alteração biomecânica ou enfraquecimento ósseo residual - explica o ortopedista Thiago Lima, da Casa Saúde São José.
De forma resumida, Adson sofreu dois tipos diferentes de fratura, mas no mesmo local. Apesar das causas distintas, uma lesão influenciou o risco da outra.
De acordo com os especialistas ouvidos pelo EU Atleta, a cirurgia anterior e suas complicações também podem ter contribuído para originar essa lesão por trauma direto.
- Cada cirurgia provoca alterações na estrutura óssea e nos tecidos ao redor. Isso pode gerar áreas de menor resistência, dificultando uma recuperação completa da integridade biomecânica do osso. Essa condição aumenta a suscetibilidade a novas fraturas, especialmente se houver um trauma direto - explica Thiago Lima.
Novo tratamento
O Vasco já informou que a nova fratura precisou de intervenção cirúrgica, que foi realizada com sucesso no Rio de Janeiro. Após o procedimento, há etapas clássicas de recuperação. O tempo estimado de retorno ao esporte é de cinco a oito meses, dependendo da evolução da consolidação óssea e das demandas do clube.
Fase 1 — Pós-operatório imediato (0–3 semanas):
Fase 2 — Consolidação inicial (3–8 semanas):
Fase 3 — Consolidação avançada e recondicionamento (2–4 meses):
Riscos de complicações
Especialistas destacam que o caso de Adson é uma situação de alta gravidade ortopédica e com impacto potencial na carreira. Segundo eles, o desafio na recuperação envolve não só garantir a consolidação óssea, mas também a confiança do atleta em movimentos intensos. A tíbia exige tempo de recuperação adequado, e dores residuais ou medo de nova lesão podem afetar o rendimento. Por isso, o sucesso depende de reabilitação cautelosa e integrada.
É uma fratura em osso de carga, fundamental para gestos atléticos de explosão, corrida e mudança de direção.
A reincidência no mesmo local sugere que o segmento ósseo já tem características de fragilidade relativa.
- Toda fratura em um atleta de alto nível é preocupante, mas uma fratura reincidente em um osso de carga como a tíbia exige ainda mais atenção. A tíbia suporta impactos constantes durante corridas, saltos e mudanças de direção, movimentos essenciais no futebol. Quando há uma nova fratura, principalmente após intervenções cirúrgicas prévias, isso pode prolongar o tempo de afastamento e requerer uma abordagem mais cautelosa - comenta Thiago Lima.
Além disso, cada nova cirurgia aumenta o risco de retardo de consolidação, síndrome dolorosa crônica, adesões de partes moles e diminuição de capacidade funcional.
- Ainda assim, não significa que a carreira está comprometida de forma definitiva, pois muitos atletas retornam bem após fraturas tibiais, desde que tenham um processo de reabilitação rigoroso e tempo adequado de cicatrização - diz Adriano Leonardi.
Ainda há risco aumentado do atleta desenvolver limitações crônicas na tíbia, como dor persistente, perda de força e massa muscular, uma vez que se trata de uma atleta de alta demanda funcional que tem uma fratura repetida no mesmo segmento ósseo e com múltiplas intervenções cirúrgicas.
As principais sequelas potenciais são:
- O risco não é apenas físico, mas também funcional e até psicológico, com medo de nova lesão. Por isso, o acompanhamento multidisciplinar é fundamental - fala Thiago Lima.
Outros casos de atletas
As fraturas por estresse e por trauma são comuns no meio esportivo, mas quando ocorrem de forma isolada. No entanto, é raro raro encontrar relatos documentados de atletas de alto rendimento que tenham passado pelo cenário vivido por Adson, em que há uma lesão por estresse seguida de fratura por pancada.
Existem casos parecidos, mas não iguais, envolvendo grandes atletas. Kevin Durant, astro da NBA, teve uma fratura por estresse no quinto metatarso em outubro de 2014, que posteriormente evoluiu para fratura completa. Ele chegou a passar por cirurgia, mas houve complicações e dificuldade de consolidação, e ele precisou de três procedimentos para corrigir o problema. O jogador ficou fora de toda a temporada 2014/2015 e retornou às quadras em outubro de 2015.