Yago Moreira Silva ficou preso por pouco mais de seis meses no Centro de Detenção Provisória de Cachoeiro de Itapemirim (ES). Foi detido em flagrante durante uma operação da Polícia Militar no bairro Zumbi, na sua cidade. Formado nas categorias de base do Vasco e campeão estadual pelo time carioca em 2015, estava vendendo drogas. Na casa dele, encontraram revólver calibre 38.
Yago foi solto dia 30 de junho após audiência de custódia. O juiz do caso, em Cachoeiro, o condenou a um ano e oito meses de prisão em regime aberto por tráfico privilegiado.
Yago vai ficar em liberdade, mas terá que assinar presença todo mês no sistema da Justiça online - com reconhecimento facial. Arrependido, aos 31 anos, ele contou ao ge que vai em busca de recomeço no futebol e promete nunca mais fazer "escolhas erradas".
“Eu sou nascido e criado em Cachoeiro de Itapemirim. É a terra do rei Roberto Carlos. Querendo ou não, ele é um cantor que todo mundo conhece, das crianças até os mais velhos, então todo mundo conhece ele aqui na cidade. Todo mundo tem referência dele.
Quem gostava mais dele em casa era minha avó. Ouvia no rádio. Eu era bem pequenininho, mas lembro de ouvir no rádio, na época de CD, de época de fita. Mas eu não curtia tanto não. Era de outra geração (risos).
Eu comecei a jogar futebol com 8 anos de idade na escolinha aqui de Princesa do Sul, que tem aqui no aqui na cidade. Em meados de 2004, eu fui para o Grêmio Santo Agostinho. O Grêmio e o Basileia são os dois times mais falados da cidade. Disputei uma Copa Gazetinha em 2005, fui artilheiro e lá tinha um olheiro do Vasco, o falecido Nelson Teixeira, que me levou para o Vasco.
Levou a mim, levou o Luan Garcia, que jogou no Palmeiras, hoje está no México. Chegamos todos na mesma época, em 2006. Eu tinha 11 para 12 anos. A gente morava numa casa. Na época, para entrar para a concentração tinha que ter 13 anos. Morei um ano ainda lá fora de São Januário.
Com 13 anos, morei junto com Luan, depois com Souza, Alex Teixeira, Allan, Alan Kardec, Philippe Coutinho. O Coutinho era do juvenil na época e eu era do mirim. Mas a gente se via todo dia, comia junto, estudava na mesma escola. No Colégio Vasco da Gama, de 2006 até 2012. Foram seis anos, me formei lá, fui até o terceiro ano.
Por parte de pai eu tenho, acho, uns seis irmãos. Mas por parte de mãe, que foi criado junto comigo mesmo, duas meninas e um menino. Morava numa casa eu, minha mãe, minha avó, meu tio e meus irmãos. Numa comunidade em Cachoeiro, no bairro Zumbi. Eu fui nascido e criado aqui.
Meu sonho? Primeiro eu era capoeirista. Eu gingava capoeira, mas aí entrei nessa escolinha de futebol, com 8 anos. Deus foi me abençoando até eu chegar no Vasco. Cheguei no Vasco, cheguei a pegar a seleção sub-17. Fui convocado com o Henrique, lateral esquerdo. Já fui com o convocado com o Marquinho, zagueiro do PSG. O Emerson, lateral-esquerdo que jogou na seleção da Itália, também.
Meu ídolo era o Ronaldinho Gaúcho. Eu sempre via ele no Barcelona. Eu jogava mais pela ponta-direita. Na época do Vasco ouvia falar muito do Dener, assistia a muitos vídeos do Dener também. Gostava muito dele, mesmo sem ter acompanhado.
Com 16 anos eu fiz o meu primeiro contrato profissional com o Vasco. Os meus sonhos eram iguais a de todos os jogadores. Primeiramente chegar ao profissional pelo clube que te criou. E depois jogar na Europa, jogar a Liga dos Campeões, jogar uma Copa do Mundo, eu acho que todo jogador, toda pessoa que está começando nessa carreira, eu acho que pensa dessa forma.
Eu fui campeão carioca em 2015. Tive dois jogos muito marcantes. A final contra o Botafogo e semifinal contra o Flamengo, que a gente precisava de dois resultados positivos, porque o empate era deles. Aí Gilberto fez o gol e a gente eliminou eles na semifinal do Campeonato Carioca de 2015.
Antes dos profissionais, eu ganhava ajuda de custo de R$ 500. Aí, no meu primeiro contrato, em 2010, eu tinha 16 anos, eu fui ganhar R$ 5.000. Ganhei luva. Quando eu fui convocado para a seleção sub-17, aí meu contrato aumentou. Aí foi só aumentando, cada ano que passava aumentava. Aí quando eu subi profissional, que eu renovei, aí que foi uma quantia boa. Graças a Deus, dava para ajudar em casa.
Eu fiquei morando em São Cristóvão. Trouxe minha mãe para o Rio para morar comigo. Tive minha filha quando eu tinha 16 anos. Ela vai fazer 15 nos, a Maria Eduarda, mas eu sou separado da mãe dela.
Depois do Estadual de 2015, disputo seis jogos no Brasileiro e vou emprestado para o Minnesota dos Estados Unidos. No começo de 2016, voltei emprestado para o Macaé para disputar o Campeonato Carioca. Contra o América, eu fraturei a tíbia. Fiquei parado até meados de 2017.
Quando volto, vou para a Coreia. Foi a minha primeira cagada que eu acho que fiz na minha vida. Eu tinha contrato de 3 anos, um salário bom. Recebia algo em torno de 20 mil dólares. Sair de lá foi a primeira burrada que eu fiz na minha vida. Eu joguei um ano lá e não me adaptei quis voltar.
Fui para o CSA de Alagoas. Fui campeão alagoano, mas reduzi muito, muito, muito, muito mesmo o meu salário. Disputei acho que cinco jogos pela Série B e depois eu saí. Tive um problema extracampo, foi uma resenha que aconteceu no apartamento lá, o diretor ficou sabendo e não teve conversa. Rescindiram meu contrato. Fiquei três meses sem clube. Em 2019, ainda passei no Retrô de Recife. Depois, fiquei mais um ano no Kwait.
Meu extracampo me atrapalhou muito. Eu era muito baladeiro.
Minha mãe é cristã. Na cadeia, lá dentro, as pessoas são muito religiosas. Todo dia tinha culto de manhã e de noite, todo dia, de segunda a segunda. Então, lá dentro eu acabei aprendendo mais. Hoje, eu acompanho minha mãe, eu vou na igreja dela. Minha fé em Deus hoje é uma coisa inexplicável. Isso pode ter certeza. Eu não tinha ligação antes com a religião, mas minha mãe sempre teve.
Eu fiquei seis meses e 20 dias preso. Foi uma das piores sensações da minha vida. Não desejo isso para ninguém não. É complicado, tem que ser forte, se não for forte...
Eu dividia a cela com mais 23 pessoas. Num lugar para ficar 10, 11 pessoas, ficavam 22, 23 pessoas. Nesse período minha família foi providencial para mim, minha mãe, minha esposa, minhas tias, minha avó, minha família toda se uniu, graças a Deus. Mas minha filha não foi lá. Eu não queria que ela fosse lá, não.
Eles iam me visitar direto. Uma semana sim, uma semana não. Dois dias de finais de semana no mês era permitido. Mas a visita era no parlatório, no telefone, eram só 15 minutos. De três em três meses que a visita era aquela em que você dá um abraço na sua mãe, você fica mais tempo ali, que você vê, que você toca. Quer dizer, nesses seis meses eu vi minha mãe duas vezes, assim, de abraço. De resto era só parlatório mesmo, no telefone.
A prisão penitenciária aqui não tem nada, não tem uma televisão, às vezes tem que ficar ali ouvindo uma rádio, conversando. É complicado, só Jesus.
Eu era mais de conversar, ficava mais na minha, no meu canto, eu ficava lendo a Bíblia. Às vezes a gente fazia um jogo lá de tampa de “marmitex”, aquelas tampas a gente fazia umas cartas lá, a gente brincava, a gente dava um jeito de passar nossos dias lá. Um jeito de passar a realidade. Mas, graças a Deus, depois a doutora Vanessa (Ribeiro Chaves, advogada) aqui que me ajudou muito.
Meu sonho agora é voltar a jogar de novo. Infelizmente, na vida, a gente tem escolha errada. Mas, graças a Deus, eu paguei o que eu tinha que pagar.
Mas eu sonho voltar a jogar. Eu já estou malhando, indo para a academia. Vou esperar, em nome de Jesus, porque Deus vai abrir a porta. Acho que não é o fim de tudo não. Tenho 31 anos, dá para queimar um pouco de gordura ainda.
Minha mãe vai fazer 50 anos. Foi difícil para ela. Eu não desejo isso para mãe nenhuma, para família nenhuma. Existem vários procedimentos que você tem que passar lá dentro para ver seu filho. Às vezes são coisas que que não são legais, né? Ela me ajudou muito, não me abandonou, ficou comigo esse tempo todo.
A comida que eu tinha era lá de dentro mesmo. É comida totalmente diferente da comida que a gente come em casa. Mas era uma alimentação boa. No café da manhã, tinha dois pães e uma fruta, uma banana. E um copo de leite com café. Aí tem o almoço, a janta. Eram três refeições no dia.
No começo foi tudo muito difícil, até a minha ficha cair. Mas depois passaram dois meses, um mês e meio... eu comecei a me acostumar, porque você tem que se acostumar, né? Hoje Deus me botou aqui na rua para nunca mais voltar.
Foi um ato de desespero. Como estava um tempo parado, sem clube, foi um ato de desespero. Mas... é uma escolha errada, totalmente errada. Eu estava machucado... Se arrependimento matasse, eu já estava morto.
Eu estava morando num beco, saindo e fui abordado pelos policiais. Aí os policiais acharam a chave lá de casa no meu bolso. Eu estava carregando umas coisas ilícitas mesmo, infelizmente. (Nota da redação: Yago foi preso em flangrante com 108 pinos de cocaina). Aí invadiram a minha casa. Eu não falei onde eu morava, mas eles sabiam que eu morava no beco. Eles foram testando a chave no cadeado de todos as portas do becos até conseguir abrir o cadeado da minha casa.
Eles entraram e acharam lá dentro uma arma. A arma era minha. Eles perguntaram de quem era. E eu falei que era minha. Porque era né. Se eu não falo, eles podiam ter levado a minha esposa. Então eles me algemaram, me colocaram num camburão e me botaram preso.
Na prisão, a gente jogava muito futebol. No banho de sol, jogava futebol todo santo dia. Era uma quadra com três, três na linha, um no gol. Muita gente lá sabia lá que eu era jogador.
Agora, toda semana tem uma peladinha, numa quadra aqui perto de casa. Eu não sou uma pessoa de ganhar muito peso. Hoje eu estou com 70 kg. Quando eu jogava com pesava 65 kg, 66 kg. Mas ainda estou correndo bem.
Dá para queimar lenha ainda. Ainda mais agora para, em nome de Jesus, calar a boca de muita pessoa. Porque tem muita gente que fala: "Ah, já tá acabado, não dá mais". Meu tornozelo está bem, me recuperei 100% da minha lesão na tíbia.
Vou tentar até onde der. Tem uns campeonatos de várzea e enquanto precisar resolver as questões com a Justiça, vou tentar aqui. Mas eu acho que até ano que vem, se eu conseguir resolver tudo, eu vou disputar um campeonato capixaba por um clube que está me sondando. Mas na várzea paga direitinho. Eu já fui convidado para jogar em uns dois times aqui. Pagam R$ 2.000 por jogo. Para quem está nesse processo ainda de resolver minhas coisas ainda na Justiça, isso vai me ajudar muito.
Agora é bola para frente."