Como o retorno de Neymar deve impactar na transmissão do Brasileirão

A contratação de Neymar pelo Santos, já anunciada pelo presidente Marcelo Teixeira, deve movimentar não só o futebol brasileiro dentro das quatro linhas, mas também fora dele. Um ativo que normalmente não dá muito dinheiro aos clubes, os direitos internacionais de transmissão do Brasileirão ainda não estão vendidos para 2025 e o retorno do midiático atacante pode destravar essas negociações.

Diferentemente da negociação para a transmissão dentro do Brasil da Série A a partir desta temporada, os dois blocos de clubes, a Libra e a Liga Forte União (LFU), decidiram, no final do ano passado, que os direitos internacionais deveriam ser fechados em conjunto. O Santos faz parte da Libra.

A Itatiaia apurou que o motivo foi de que, no entendimento dos clubes, haveria dificuldade na venda fracionada de jogos para o mercado de fora do país. O fato de os valores também serem normalmente baixos não fazia valer o esforço de uma concorrência dos blocos em busca de parceiros.

A princípio, os valores acertados seriam divididos 50% para cada grupo. Funcionaria assim: os blocos continuam negociando por conta, mas com a permissão de vender todo o campeonato, inclusive partidas como mandantes de clubes da outra liga. Se houvesse uma proposta interessante, e caso o valor fosse concordado pelo outro lado, o acordo estaria fechado.

A LFU contratou uma agência, a Stenna Internacional, para negociar esses ativos. Já a Libra tratava sem intermediário, com seus executivos conversando com interessados.

“O interesse pelo Campeonato Brasileiro aumenta bastante com a presença do Neymar. Atleta conhecido mundialmente, com mais de centenas de milhões de seguidores, os direitos internacionais passam a ter outro valor com ele, de fato, atuando”, disse Fábio Wolff, sócio-diretor da Wolff Sports e especialista em marketing esportivo.

Há, no mercado, a curiosidade de saber se a chegada de Neymar pode fazer com que o acordo entre Libra e LFU acertado no fim de 2024 pela venda em conjunto pode ficar desequilibrado, já que o Santos está na Libra, portanto os jogos do clube como mandante são parte desse bloco. Por outro lado, o acordo do atacante inicialmente deve ser apenas até o meio do ano, o que pode impactar em valores a serem apresentados por interessados.

“Não apostaria hoje em um incremento relevante de valores por conta da chegada de Neymar. Infelizmente, a passagem dele pela Arábia Saudita reduziu consideravelmente interesse pelo mesmo, enquanto outros jovens despontaram na Europa, com status de candidatos ao posto de melhor do mundo em um futuro próximo”, acredita Thiago Freitas, COO da Roc Nation Sports no Brasil, empresa de entretenimento norte-americana.

“Neymar segue sendo para nós, brasileiros, uma esperança de que possamos ter na Seleção alguém que nos conduza ao principal título, mas fora daqui, é difícil encontrar quem enxergue ele e nossa Seleção como protagonistas no próximo mundial. Vamos observar um fenômeno de público e audiência, mas entre os brasileiros que vivem aqui e no estrangeiro, não global”, concluiu Freitas.

Campeonato com estrelas

Entre 2020 e 2023, o Brasileirão teve transmissão para mais de 100 países, em negociação fechada por agências e que não rendiam valor significativo aos clubes. O discurso sempre foi o de "é importante ter as marcas aparecendo lá fora para que os clubes possam fechar contratos comerciais relevantes dentro do Brasil”.

Em 2024, alguns clubes, como Fortaleza, Inter, Vasco e Fluminense, fecharam acordo com as empresas 1190 Sports e Zeus Sports Marketing para a distribuição de seus jogos como mandante para fora do país. A 1190 já detinha contratos em anos anteriores para os direitos internacionais.

O Corinthians usou uma contratação internacional importante para vender seus jogos para fora. A chegada de Memphis Depay fez com que o clube negociasse seus confrontos como mandante no Brasileirão à ESPN da Holanda, algo impensável anos antes.

“Transmitir jogos para outros continentes eu julgaria que é 99% da força de internacionalização de um clube de futebol. Estamos atrasados há décadas. O Neymar possui uma audiência gigante fora do Brasil, é a chance de usar a chegada dele para dar início a este projeto tão importante. É a hora mais propícia, um bom planejamento de marketing pode até envolvê-lo, de certa forma, sendo um dos âncoras na divulgação junto com as Ligas, que são as responsáveis pela comercialização”, disse Renê Salviano, CEO da Heatmap e especialista em marketing esportivo.

Neymar, que rescindiu com o Al-Hilal, da Arábia Saudita, para jogar pelo Santos, será a principal estrela, mas não a única do Brasileirão. Tem o já citado Depay, mas o São Paulo repatriou Oscar, com larga carreira no exterior, o Palmeiras tem a revelação Estêvão, que já vendido ao Chelsea-ING chama a atenção no exterior, o Cruzeiro se armou com Dudu e Gabigol e Hulk continua no Atlético.

Transmissão no Brasil

Os dois blocos venderam separadamente seus jogos para o mercado nacional. A Libra fechou exclusividade com o Grupo Globo, para todas as plataformas (TVs aberta e fechada, streaming e pay-per-view) até 2029.

A LFU tem negociado separadamente suas partidas. A Record comprou para TV aberta até 2027. A Cazé TV transmitirá a mesma partida da emissora em seu canal no Youtube. A Amazon Prime Video adquiriu um jogo exclusivo por rodada até 2029. O bloco ainda tem jogos para negociar com outras empresas.

Libra e LFU

Libra: ABC, Atlético, Bahia, Brusque, Flamengo, Grêmio, Guarani, Ituano, Mirassol, Novorizontino, Palmeiras, Paysandu, Ponte Preta, Red Bull Bragantino, Sampaio Corrêa, Santos, São Paulo e Vitória.

LFU: Athletico-PR, América, Atlético-GO, Avaí, Corinthians, Chapecoense, Ceará, Criciúma, CRB, CSA, Cuiabá, Figueirense, Fluminense, Fortaleza, Goiás, Internacional, Juventude, Londrina, Náutico, Operário, Sport, Tombense, Vila Nova, Botafogo, Cruzeiro, Coritiba e Vasco.