Ex-jogadores, ídolos do Vasco e antigos aliados, Pedrinho e Edmundo agora estão em lados opostos no tabuleiro de xadrez da política do clube. O "rompimento total" foi anunciado pelo ex-atacante em seu canal no YouTube na segunda-feira. Ele afirmou se sentir obrigado a tirar o atual presidente do cargo.
— Ano que vem é ano de eleição, e a única certeza que eu tenho é a de que eu serei contra o Pedrinho, podem escrever. Totalmente contra. Me sinto obrigado a tirá-lo da presidência do Vasco, esse será o meu compromisso com vocês. Vou me empenhar bastante para isso — prometeu o Animal.
Como a relação de amizade de longa data transformou-se em rixa pública? O ge conta as idas e vindas dos últimos anos até a declaração de guerra de Edmundo. Procurado pela reportagem, Pedrinho preferiu não se pronunciar sobre o tema.
De aliados a desafetos
Hoje aos 54 anos, Edmundo há mais de uma década é um dos rostos da Sempre Vasco, que elegeu Pedrinho em 2023. O Animal apoiou também o candidato do grupo, Julio Brant, nas eleições de 2014, 2017 e 2020.
No dia do pleito em novembro de 2023, Edmundo comemorou a vitória abraçado a Pedrinho na sede do Calabouço, no Rio de Janeiro. E os problemas começaram antes da posse, por causa de declarações do ex-atacante em seu canal. Uma semana depois da eleição, ele revelou o valor da folha salarial da equipe ("quase R$ 26 milhões") e expôs o salário do zagueiro Medel ("R$ 1,3 milhão").
A frase causou incômodo no grupo político que assumiria o Vasco em janeiro de 2024, mas não houve racha. Na posse de Pedrinho, Edmundo marcou presença na sede da Lagoa e explicou em conversa com jornalistas que não tinha interesse em assumir cargo na gestão, mas que estava à disposição e esperava prestar um papel de consultor na administração de Pedrinho.
O ge apurou que a decisão de não ocupar uma cadeira na gestão, de fato, partiu de Edmundo. "Se pedisse, ele teria", garantiu uma pessoa com quem a reportagem conversou. O ex-atacante alimentou o desejo de se lançar a presidente em outra ocasião, mas mudou de ideia depois que pesquisas apontaram rejeição por parte da torcida.
No início, Edmundo participou de alguns movimentos da gestão, principalmente nas críticas à 777 Partners, que comandava o futebol do Vasco até 15 de maio de 2024, quando o grupo de Pedrinho conseguiu liminar na Justiça e assumiu o controle da SAF. Mas até a forma de reprovar a empresa americana era diferente.
Enquanto o presidente do Vasco adotava o silêncio ou despistava, como na coletiva de março de 2024 em que ele disse nove vezes a frase "Eu não posso falar", Edmundo fazia questionamentos públicos. Em 13 de abril, ele revelou detalhes de uma reunião entre Pedrinho e Josh Wander. Pouco depois, foi mais direto.
— A torcida do Vasco tem que ajudar a fazer um mutirão para expulsar esses agiotas.
Depois da liminar, Edmundo ainda defendeu Pedrinho das críticas que surgiram quanto a uma possível insegurança jurídica criada pela destituição da 777 do controle da SAF. Mas a chegada da Sempre Vasco ao poder do futebol marcou também o aumento da distância entre os antigos amigos.
No início de junho, já com Pedrinho no comando, Edmundo fez duras críticas públicas a Payet depois da derrota para o Flamengo por 6 a 1.
— Os craques do Flamengo chamaram a responsabilidade. Diferente do craque do Vasco, que se escondeu do jogo. O craque do time não chama responsabilidade. Goza de prestígio com o torcedor sem fazer nada. O Payet não fez nada com a camisa do Vasco ainda.
Com frequência, Edmundo compartilhou informações de bastidores do Vasco no seu canal. O ge ouviu que isso causou incômodo na atual gestão, que prega uma administração mais profissional e não aprovava a forma como notícias internas eram anunciadas pelo ex-jogador na internet. O fato de Edmundo ter feito viagens a lazer durante a temporada, enquanto cobrava maior participação nas decisões da gestão, também provocou mal-estar. "O futebol não para", disse uma fonte.
Aos poucos, o tom de Edmundo nas lives foi mudando. Ele criticou em mais de uma ocasião contratações como as de Maxime Dominguez e Jean David na janela do meio do ano passado e discordou da decisão da diretoria de ceder às "exigências" de Philippe Coutinho. "Ele exigir que o Vasco gaste mais de R$ 600 mil por mês com Alex Teixeira e Souza é um absurdo", disse em live recente.
No dia 28 de abril, Edmundo voltou a questionar as contratações feitas pela gestão Pedrinho nas duas últimas janelas de transferências.
— Se juntar tudo o que foi gasto nessas contratações, daria para trazer o Cristiano Ronaldo.
Na segunda-feira, Edmundo revelou que não participa do dia a dia da gestão há cerca de sete meses. Mas que a gota d'água ocorreu nesta semana, quando foi excluído de um grupo da Sempre Vasco.
— Eu adoro o Pedrinho, embora ele tenha errado demais comigo e hoje errou de novo. Ele não tem propriedade de me excluir do grupo da Sempre Vasco, grupo para o qual eu o levei para participar. Acho que ele está muito soberbo, metido, de nariz em pé. Achando que é mais do que outras pessoas só porque hoje ocupa a cadeira de presidente do Vasco. Uma demonstração gigantesca de ingratidão e de que o poder modifica as pessoas. Ele não é e nunca foi esse tipo de pessoa. (...) A partir de hoje há, sim, um rompimento total. Vamos ver quem sai ganhando nessa queda de braço.
Uma pessoa próxima a Edmundo disse ao ge que acredita que o pronunciamento está mais ligado a uma mágoa pessoal com Pedrinho, quem ele considerava amigo, do que a um movimento político premeditado.
Por outro lado, apoiadores de Pedrinho não descartam a possibilidade de Edmundo ter se aproveitado de um momento delicado do presidente, com resultados ruins no futebol e críticas à gestão, para alimentar o discurso de oposição de olho nas eleições do ano que vem.